Uso consciente das redes sociais é habilidade a ser desenvolvida por crianças e jovens na escola

Jovem negro usando o computador e de um lado um balão com alguns elementos referentes ao lado positivo das redes sociais como e-mail, youtube, likes e do outro referências ao lado negativo como símbolo de atenção, balão com palavrões, sinal de proibido para menores de 18 anos. Daniela Machado, do Educamídia, comenta a importância de debates e reflexões sobre o mundo da internet e os estudantes enquanto consumidores e produtores de conteúdo

“Eu não uso redes sociais” é uma frase cada vez mais rara de se ouvir, principalmente se a pergunta for para o público jovem. Seja fazendo danças e coreografias ou compartilhando fotos, os aplicativos fazem sucesso entre crianças e adolescentes, mesmo que grande parte deles determine uma idade mínima para abrir uma conta e navegar.

Por isso, cada vez mais se faz necessária a prática de uma educação midiática, não só com orientações, mas uma formação clara para que estudantes possam entender como se portar no mundo online. Essa necessidade foi ainda mais reforçada pela pandemia de Covid-19, considerando que, em muitos casos, as tecnologias e as redes sociais apoiaram o contato de alunos e escolas para a continuidade do processo pedagógico. 

De acordo com a pesquisa TIC Domicílios 2020, o Brasil alcançou 152 milhões de usuários, o que equivale a 81% da população com 10 anos ou mais. O uso da internet, de maneira geral, cresceu — ainda que muitas crianças e adolescentes continuem sem os dispositivos adequados e acesso de qualidade. Isso não significa, necessariamente, que a compreensão sobre a importância de uma navegação segura acompanhou o ritmo.

“Fomos ’empurrados’ para o mundo digital nos últimos anos, mas não acho que nossa reflexão sobre as redes sociais e outros componentes desse universo tenha avançado na mesma velocidade”, explica Daniela Machado, coordenadora do Educamídia, programa de educação midiática do Instituto Palavra Aberta. 

Papel da escola

Não se trata de apresentar as redes sociais como vilãs ou inocentes. Daniela diz ser necessário entender como essas ferramentas apresentam desafios e riscos que devem, sim, ser considerados, mas ao mesmo tempo trazem consigo oportunidades, como a de mobilizar pessoas em torno de problemas da comunidade, entrar em contato direto com especialistas de quase todas as áreas do conhecimento, fazer parte do debate público, entre outras. 

“É para maximizar essas oportunidades — e minimizar os riscos — que precisamos que a educação midiática esteja presente na escola. Ainda que nem todas as crianças e adolescentes do país tenham acesso permanente e de qualidade à internet, é inegável que cada vez mais estejam, de alguma forma, expostos às redes sociais. Por isso, quando a escola deixa de promover reflexões e incentivar um uso mais fortalecedor dessas plataformas, está deixando de cumprir um papel essencial nesta era de superabundância de informações em que vivemos.” 

Para reforçar ainda mais a importância da escola estar ciente e engajada no debate do uso dos meios digitais e redes sociais, a competência número cinco da educação básica apresentada pela BNCC (Base Nacional Comum Curricular) afirma que os estudantes devem: “Compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de informação e comunicação de forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas sociais (incluindo as escolares) para se comunicar, acessar e disseminar informações, produzir conhecimentos, resolver problemas e exercer protagonismo e autoria na vida pessoal e coletiva.” 

O que é educação midiática?

Segundo o Educamídia, educação midiática é o conjunto de habilidades para acessar, analisar, criar e participar de maneira crítica do ambiente informacional e midiático em todos os seus formatos — dos impressos aos digitais. “A educação midiática leva os estudantes a desenvolverem uma série de habilidades para consumir e produzir informações de uma maneira mais reflexiva e responsável, para que possam participar plenamente da sociedade conectada”, explica Daniela. 

Considerando a forma como a comunicação mudou nas últimas décadas, é importante que crianças e jovens consigam enxergar o potencial e responsabilidade que carregam ao produzir e compartilhar um conteúdo, ações possibilitadas pelas tecnologias atuais. 

“Hoje já temos a possibilidade de criar nossos próprios conteúdos e encontrar uma audiência real para eles, que, em alguns casos, pode chegar à casa dos milhões. As crianças e os jovens, em maior ou menor grau, dependendo do contexto em que vivem, já criam muita coisa, de dancinhas despretensiosas no TikTok a campanhas para promover a leitura em comunidades que não contam com bibliotecas”, exemplifica. 

Nesse sentido, Daniela explica que o Educamídia entende a educação midiática como um direito dos estudantes, uma vez que serão orientados e aprenderão a analisar vantagens e desvantagens de cada ferramenta a partir do propósito de sua mensagem, refletir sobre as consequências de sua ação, entre outras habilidades. 

Olhar do professor

Estar atento ao que acontece nas redes sociais, bem como avaliar em sua própria prática onde é possível inserir uma camada de debates sobre essas ferramentas, são duas dicas que Daniela oferece aos educadores que desejam começar ou continuar a trabalhar a educação midiática em sala de aula. 

Ela cita um exemplo utilizado nas aulas do Educamídia no qual o ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, questionou, via Twitter, se realmente existe aquecimento global, já que estava visitando um local que enfrentava uma nevasca. “Como resposta, um instituto de estudos do clima também usou o Twitter para mostrar como nevascas extraordinárias são efeito do aquecimento global. E, ao analisar todo esse material das redes sociais, os estudantes aprenderam conceitos da área e também tiveram a oportunidade de refletir sobre o uso dessas plataformas.” 

Promovendo atividades

Confira a seguir exemplos de práticas, ações e atividades que podem ser desenvolvidas para promover uma reflexão sobre o uso das redes sociais:

– analisar como temas ligados ao currículo são tratados em diferentes canais; 

– debater temas como discurso de ódio, limites da liberdade de expressão, análise da confiabilidade das informações, leitura crítica de imagens;

– avaliar perfis nas redes e fontes de cada informação; 

– incorporar atividades que trabalhem a leitura crítica e/ou a produção de mídias a qualquer conteúdo escolar;

– Daniela cita um exemplo: “Em uma aula sobre o sistema solar, os alunos poderiam analisar e criar memes sobre o terraplanismo a partir das redes sociais. Para saber o formato da Terra e de outros planetas, precisam entender diversas leis que regem o universo (conteúdo curricular) e para trabalhar com memes precisam entender esse novo formato de mensagem (habilidade midiática)”. 

Confira exemplos de planos de aula: 

– Como as redes sociais podem ser utilizadas para engajar e mobilizar?;

– Como analisar criticamente o papel e as mensagens de influenciadores e outros autores digitais?.

Fique por dentro

Práticas como essas incentivam o desenvolvimento da autonomia dos alunos e apoiam as competências gerais da BNCC.

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