Educação política vai além de eleições e envolve respeito, cidadania e empatia
Para especialista, abordar os direitos e deveres civis e políticos de cada um pode render benefícios à democracia brasileira
A escola é um dos locais mais promissores para, desde cedo, trabalhar temas que, no futuro, podem ajudar a promover melhorias significativas na sociedade. Um deles é a política.
O assunto deve ser trabalhado nas salas de aula não apenas devido à aproximação das eleições no Brasil em outubro de 2022, mas também porque educação política significa educar para a cidadania, abordando os direitos e deveres civis e políticos de cada um, como explica Kamila Nunes, gestora do Núcleo de Educação Básica da Politize!.
“Oferecer educação política para os estudantes é o primeiro passo para a conscientização. Isso tem grande potencial de render benefícios para a democracia brasileira. A educação política é importante porque fornece ferramentas para a cidadania ativa e, assim, empodera pessoas, grupos e comunidades para atuarem em seus territórios, além de nos levar a pensar sobre nosso papel como cidadãos e no impacto de nossas ações na sociedade”, comenta.
Política é coisa de adulto?
Apesar de alguns conceitos relativos à política serem mais facilmente assimilados por estudantes mais velhos, há outros pontos que podem ser abordados e trabalhados em todas as idades. Kamila defende que cada indivíduo deve exercitar hábitos que causam um impacto positivo na sociedade a partir de valores como solidariedade, compaixão, empatia, cooperação e respeito, algo a ser exercitado desde cedo, ainda na educação infantil.
“Para que os estudantes cheguem ao ensino médio e possam dialogar sobre temas relativos à cidadania e democracia em sala de aula, respeitando a opinião dos colegas, apresentando capacidade crítica de análise e argumentação e compreensão da diversidade, é preciso que eles tenham desenvolvido as habilidades e competências para isso na educação infantil e ensino fundamental.”
Ou seja, a educação política também envolve o trabalho e incentivo ao desenvolvimento de habilidades como respeito ao próximo, o que é, inclusive, incentivado e respaldado pela BNCC (Base Nacional Comum Curricular).
“O campo de experiência “Eu, o Outro e Nós” [um dos cinco campos de experiências da BNCC para Educação Infantil] que estabelece construir relações com respeito, viver em sociedade, explorar o entorno social e compreender a si mesmo como indivíduo e as diferenças e a diversidade entre os colegas, é base essencial para compreensão do estudante sobre questões relativas à cidadania”, explica a gestora.
Religião e política não se discutem
Apesar de ser bastante famoso e divulgado por aí, o ditado impõe uma ‘regra de convivência’ e bons costumes que pode ser contornada considerando o respeito a princípios e objetivos constitucionais. O direito de argumentação e expressão de opiniões está, inclusive, previsto na Constituição Federal em mais de um artigo.
Entretanto, Kamila explica que, por vezes, o direito à opinião é utilizado em defesa de posicionamentos preconceituosos e discriminatórios. Nessas ocasiões, é importante a intervenção por parte dos professores, pontuando que posições que vão contra os direitos humanos não devem ser toleradas.
“Com a polarização que existe hoje, estamos perdendo a confiança no diálogo como forma de lidar com problemas e divergências relacionadas à temas políticos. Acreditamos que isso nos faz evitar conviver com pessoas com opiniões e crenças diferentes das nossas, incentivando o crescimento de estereótipos e desconfianças, o que cria um cenário fértil para notícias falsas, desinformação, manifestações de ódio e até violência.”
Para Kamila, é justamente por esse cenário atual – que inclusive favorece a explosão de conflitos que se alimentam da desinformação geral e se aproveitam de temas naturalmente inquietantes, como é o caso da política – que estudantes devem ser preparados, desde criança, para conviver, escutar ativamente, respeitar o diferente e crescer a partir do diálogo.
“Refletir sobre política é um exercício que propicia o pensar na coletividade e implica em exercitar a empatia, já que somos expostos às visões do outro.”
Como debater política na escola
Considerando que grande parte do desinteresse pela política deve-se ao fato de jovens não se enxergarem nela, Kamila aponta algumas ações e atitudes para despertar o interesse dos estudantes pelo tema e, assim, conseguir promover uma educação política.
– Colocar as juventudes no centro das ações de educação política;
– Promover debates de jovens com jovens;
– Mostrar que existem diversas formas de “fazer política” e que ela não é feita só em Brasília;
– Mostrar que a política também acontece no cotidiano;
– Promover a comunicação não violenta e seus princípios, como ouvir, não interromper a fala do colega, realizar perguntas como: O que significa o termo x para você, Porque você acredita que x é importante?, Como você chegou a esta conclusão?, entre outras.
O Politize! desenvolve materiais para ajudar a despertar o interesse pela vida pública que observam seis principais temáticas: 1. Cidadania Local e Global, 2. Mídias e Comunicação, 3. Direitos e Acesso à justiça, 4. Inovação e Coletividade, 5. Políticas Públicas e 6. Participação e Mobilização Social. É o caso do novo e-book Eleições, que traz 18 planos de aulas sobre eleições.
Para a gestora, bons debates que observam princípios básicos como respeito podem proporcionar:
– O pleno desenvolvimento da pessoa;
– Preparo para o exercício da cidadania;
– Qualificação para o trabalho;
– Liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber;
– Pluralismo de concepções pedagógicas;
– Valorização dos profissionais da educação escolar.
Fique por dentro
Na Jornada Mente, você encontra outros mecanismos para incentivar o protagonismo juvenil nas escolas, como a realização de debates e assembleias escolares.
Práticas como essas incentivam o desenvolvimento da autonomia dos alunos e apoiam as competências gerais da BNCC. Saiba mais!
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