Se por um lado os trabalhos em grupo podem ser uma ótima oportunidade para desenvolver habilidades, por outro, quando mal estruturados, têm potencial para causar conflitos e discussões entre os estudantes. Afinal, quem nunca presenciou a clássica situação onde uns fazem tudo, enquanto outros pouco colaboraram?

Para que os trabalhos em grupo sejam bem-sucedidos, o professor de matemática Deivide Nascimento, que dá aulas para as turmas do oitavo e nono ano do Colégio Marista Glória, no Cambuci (SP), afirma que é importante considerar alguns fatores. O primeiro deles é a diversidade das equipes: “Os grupos devem ser compostos por estudantes com diferentes habilidades, conhecimentos e experiências. Isso ajudará a garantir que todos tenham a oportunidade de contribuir e aprender”, recomenda. 

Também é fundamental fornecer diretrizes claras para orientar a turma na organização do trabalho. “Isso ajuda a evitar conflitos e garante que o trabalho seja concluído de forma eficaz”, ressalta. Da mesma forma, o feedback regular ajuda os alunos a medir o seu progresso. 

“Como professor, acredito que os trabalhos em grupo são uma ferramenta essencial para o aprendizado dos estudantes. Eles permitem o desenvolvimento de habilidades de comunicação, colaboração, resolução de problemas e criatividade”, destaca Deivide. 

No livro “Planejando o Trabalho em Grupo – Estratégias para Salas de Aula Heterogêneas”, as pesquisadoras Elizabeth Cohen (1932-2005) e Rachel A. Lotan, da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, trazem uma definição interessante de trabalho em grupo: “Alunos trabalhando juntos em grupos pequenos de modo que todos possam participar de uma atividade com tarefas, claramente, atribuídas.” 

Para as autoras, a boa execução do trabalho em grupo também passa pela delegação de autoridade para que os alunos se esforcem sozinhos e cometam erros. Elas ainda indicam promover um ambiente de cooperação e oferecer subsídios para que eles se comuniquem de forma autônoma. 

Ao mesmo tempo, o trabalho em grupo também pode se tornar prejudicial quando não prepara os estudantes para essa situação. “Não necessariamente os estudantes e os próprios adultos sabem como trabalhar em grupo de maneira exitosa, por isso, é necessário aprender a se trabalhar assim”, alertam as autoras na publicação. 

Como mediar conflitos nos trabalhos em grupo 

Na hora de trabalhar em grupo, também é natural que apareçam alguns conflitos entre os estudantes, principalmente porque eles estão aprendendo a se comunicar e questionar opiniões divergentes. O caminho para mediar essas situações, segundo a coordenadora Bianca Villela, que trabalha na Escola Lumiar, em São Paulo (SP), é estimular o diálogo entre os alunos para que eles aprendam a olhar para o conflito de forma positiva. “Eles precisam expor o que sentem e ter uma visão sobre os seus sentimentos. O que eu sinto? O que pra mim é desconfortável? O que seria necessário? Ao mesmo tempo que conseguem expressar isso, também precisam ouvir o que a outra pessoa sente e precisa”, diz. 

Quando surgem os conflitos, ela também menciona que é importante evitar pré-julgamentos, sem cair na armadilha de imaginar que, se um estudante é bagunceiro, provavelmente fez algo errado. “Toda a situação de conflito demanda uma conversa para compreender aquelas pessoas e o que aconteceu”, pontua. 

Para a mediação de conflitos entre os estudantes, a coordenadora Juliana de Oliveira Santos, que trabalha no Senac Santana, em São Paulo (SP), também sugere pensar na perspectiva da justiça restaurativa – ou seja, por meio do diálogo e da negociação. “É importante mediar conversas entre os envolvidos, tentando entender para além de como eles se sentem com a situação, o que entendem que seriam propostas de reparar o ocorrido”, orienta. 

Nem sempre será possível fazer o que todos querem, mas esse olhar ajuda os estudantes a compreender suas responsabilidades e como diferentes ações impactam nas relações dentro e fora da sala de aula. 

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