Shakespeare no TikTok: professoras ensinam literatura clássica de forma inovadora

Projeto desenvolvido com alunos do Ensino Fundamental II trabalha clássico da literatura através das redes sociais 

Ilustração do escritor William Shakespeare segurando um celular. Ele age como se estivesse tirando uma selfie. Na tela do celular, há o desenho de uma caveira. Texto da imagem: Shakespeare no TikTok?

Você conhece o TikTok? Esse aplicativo vem conquistando o coração dos jovens e serve para criar e compartilhar pequenos vídeos com músicas e efeitos especiais. Apesar de ter se popularizado por gravações de “dancinhas” e coreografias virais, o TikTok está começando a atrair professores que enxergam um potencial educativo na plataforma. É o caso de duas professoras que inovaram ao misturar redes sociais e William Shakespeare. 

O projeto de Juliana Dias e Danielle Lima – professoras de Inglês e Língua Portuguesa, respectivamente – mostrou que é possível usar o aplicativo para discutir literatura clássica e o contexto social atual. A partir da leitura da peça “A Megera Domada”, de Shakespeare, as educadoras propuseram que alunos do sétimo ano do Ensino Fundamental II refletissem sobre temas como justiça social e o papel da mulher na sociedade. 

O percurso do projeto envolveu as principais plataformas virtuais. Para o WhatsApp, os estudantes deveriam pensar sobre o que os personagens conversariam e desenvolver diálogos entre eles a partir das leituras. No Instagram, a ideia foi criar perfis para os personagens e publicar conteúdos relacionados à trama. O grupo que ficou com o Twitter deveria abordar aspectos da obra nessa rede social, e a equipe do TikTok criou vídeos curtos, com músicas, efeitos especiais e interpretação dos personagens. 

Idade e restrição das famílias  

Apesar de ser inovador e ter despertado o interesse dos estudantes, o projeto encontrou algumas barreiras. Para evitar atrito com famílias que proíbem que os filhos tenham contas em redes sociais, e também para garantir a segurança dos estudantes e facilitar o monitoramento do conteúdo produzido, as professoras decidiram compartilhar modelos impressos que imitam a interface das redes sociais utilizadas para os alunos trabalharem. 

No entanto, mesmo com a restrição de idade para pessoas maiores de 13 anos, muitos alunos já possuíam contas no TikTok. No caso dos grupos que trabalharam nesse aplicativo, a orientação das professoras era não publicar o que era produzido, mas usar a ferramenta para criação dos vídeos, que deveriam ficar arquivados no celular.   

Por mais que algumas famílias sejam contrárias ao uso das redes sociais, a professora de inglês Juliana Dias defende a importância de a escola não ignorar que elas existem. Para a educadora, é fundamental que crianças e jovens sejam ensinados a usar os aplicativos de forma consciente e responsável, entendendo e sabendo analisar criticamente os conteúdos publicados e os perfis e personalidades que eles seguem nas redes.   

Novas linguagens  

Para Juliana, o projeto teve diversos pontos positivos, entre eles o fato de ter extrapolado as paredes da escola com uma proposta pedagógica inovadora para os alunos. “Os estudantes ficaram super empolgados. Eles puderam usar a criatividade e o resultado foi realmente surpreendente. Eles foram super engraçados, fizeram tudo com gosto e ficaram ansiosos para apresentar não só para os outros grupos, mas para os professores também”, afirma.   

A educadora explica que, ao mesmo tempo que muitas pessoas defendem que crianças e jovens estão se perdendo em meio ao “internetês”, é importante que os professores direcionarem esforços para falar a linguagem dos alunos e se adaptarem a esse novo contexto do uso de redes sociais, que ainda é novo para a Educação.  

“Enquanto multiplicadora EducaMídia, converso muito sobre tecnologia e redes sociais, por isso eu mesma criei uma conta no TikTok. Antes, ouvia várias palavras na boca dos alunos que eu não sabia o que era ou que contexto tinham, como flopou (fracassou), fanfic (narrativa ficcional) e trends (temas do momento). Sendo professora de inglês, eu preciso entender a linguagem do meu aluno, sendo ela digital ou não, para que possamos nos comunicar. Tanto para que eu consiga passar a minha mensagem, como para aprender com eles e entender o que acontece nessa geração”, exemplifica.  

Além disso, ela destaca que o uso das ferramentas digitais pode contribuir na inclusão de jovens mais tímidos ou com dificuldade de aprendizagem nas formas mais tradicionais de ensino. “Alguns estudantes têm dificuldade de produzir um texto, ou de se comunicar na frente da sala presencialmente, ou com a câmera aberta no ensino remoto. Mas quando esse aluno se vê em um ambiente de rede social, ele se transforma, se liberta de algumas amarras e consegue produzir e demonstrar o que sabe e o que aprendeu.”  

Ambiente de aprendizagem  

Assim como diversas redes sociais, o algoritmo usado pelo TikTok determina quais conteúdos serão oferecidos ao usuário a depender das interações – curtidas, comentários, compartilhamentos e visualizações –, entre outros fatores. Por isso, é possível que uma pessoa que não se interesse por danças e coreografias, mas sim por vídeos educativos, também encontre seu nicho no aplicativo.

Juliana, por exemplo, não publica tantos conteúdos autorais na rede social, e usa a plataforma para entender a linguagem dos seus alunos e como fonte de pesquisa. Lá, ela encontra formas diferentes e criativas de trabalhar determinados conteúdos e aprender sobre diferentes temas.  

“O TikTok promove muita visibilidade para os educadores, que podem compartilhar práticas e dicas de cotidiano escolar e conteúdos. O aplicativo garante a visibilidade e, com isso, pode promover a autoridade daquele profissional no assunto. Quando alguém se mostra especialista, as pessoas valorizam. A ferramenta também pode ser fonte de networking (criação de redes de contatos), promovendo a troca entre pares.” 

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