A prática apoia o professor a avaliar seu próprio trabalho e a acompanhar a evolução dos estudantes, além de fortalecer o aprendizado entre pares

Planejar aulas, aplicar e corrigir provas, criar novas metodologias de ensino, acompanhar a evolução dos estudantes e se relacionar com suas famílias. Essas são algumas das funções que tradicionalmente se associam ao trabalho docente. Contudo, nesse rol há uma atividade muito importante – e também pouco comentada: a realização de registros pedagógicos.

Essa atividade nada mais é do que o professor registrar, de maneira sistemática e intencional, as suas práticas pedagógicas. Ao ser instaurada, a prática pode apoiar o professor a avaliar seu próprio trabalho, encontrando pontos positivos e negativos, e dessa maneira aperfeiçoar a dinâmica das aulas. Ainda permite que os docentes troquem experiências sobre suas diversas práticas pedagógicas e, assim, evoluam em conjunto.

A importância dos registros pedagógicos

Com a ajuda do diretor geral do Instituto Anísio Teixeira, Iuri Rubim, elencamos alguns pontos que mostram a importância da prática de registros pedagógicos para o trabalho docente:

• Acompanhar o progresso dos estudantes

“O registro permite que os professores acompanhem o progresso individual dos estudantes ao longo do tempo, percebendo com o que se identificam, em que avançam com mais fluidez e onde precisam de apoio”, observa Iuri.

• Avaliar e ajustar a própria prática

“Ao registrar as estratégias usadas e os resultados obtidos, os docentes podem avaliar o que funciona melhor em sua prática pedagógica e fazer ajustes necessários para melhorar o aprendizado dos estudantes.”

• Fortalecer o aprendizado entre pares

“Os registros também podem ser compartilhados entre educadores e, assim, fornecer diferentes insights (percepções) e perspectivas, fortalecendo também o aprendizado entre pares.”

Principais desafios

No Brasil, a rotina de trabalho da classe docente também é marcada pela sobrecarga de tarefas, pelo estresse e pela falta de apoio e valorização, como demonstram diversas pesquisas e relatos de quem está à frente da sala de aula. Esses elementos, somados à ausência de espaços formativos, tornam-se um grande empecilho para a realização do registro de práticas pedagógicas.

Nesse cenário, há um consenso entre educadores de que os momentos de reflexão coletiva acerca das práticas são fundamentais e devem fazer parte da carga horária, recebendo apoio e reconhecimento da gestão escolar.

O diretor do Instituto Anísio Teixeira cita também a “fragmentação dos tempos pedagógicos” como um grande desafio a ser superado, como as decisões sobre a quantidade de alunos nas turmas e as estratégias de ensino. “Esses pontos ultrapassam a esfera de decisão dos docentes, e aí é muito importante compreender como decisões administrativas nunca são somente administrativas e, em diversas ocasiões, afetam diretamente o desempenho de professores e estudantes.”

Iuri reforça a importância de metodologias que colocam o estudante como protagonista, no centro do processo de aprendizagem. “Afinal, se o professor opta por um modelo de aula expositiva e fica em evidência durante todo o processo, que tempo lhe resta para fazer observações e registros?”, questiona.

Apoio para o professor praticar o registro

Sobre o suporte que os educadores devem receber da gestão para executar seus registros pedagógicos, o especialista lista alguns pontos:

• apoiar na organização dos horários “para superarmos as famigeradas aulas de 50 minutos”;
• dosar a distribuição de estudantes por turma “para que a quantidade de alunos permita a implementação de uma maior variedade de estratégias de ensino”;
• incentivar o uso de um conjunto de mídias e tecnologias “que facilitem não apenas o registro, mas também o compartilhamento desses materiais”;
• promover ativamente comunidades de prática e outros formatos de aprendizagem entre pares;
• utilizar registros pedagógicos reais como material didático em processos de formação continuada.

Como posso fazer meu registro?

Se o educador e a escola já estão convencidos da importância dos registros pedagógicos, mas não sabem como iniciar esse processo, Iuri Rubim também dá algumas sugestões:

“Existem muitos modelos possíveis de registro pedagógico. No meu ponto de vista, um documento atual deve ser multimídia e permitir a confluência de arquivos de diversos formatos. Isso dá liberdade ao professor ou professora para usar a forma de registro mais adequada e à mão – em geral, seu smartphone. Ao mesmo tempo, deve focar menos no que já está pronto antes das aulas e mais nas emergências e irrupções de cada encontro, afinal é ali que está a mágica! Tudo isso, claro, com algum contexto e incentivo às observações dos docentes.”

Por fim, o especialista ressalta um ponto de atenção nesse processo: as redes escolares devem evitar a formatação e padronização excessiva dos registros pedagógicos. “Os educadores podem enxergar isso como uma interferência indevida ou como ‘mais uma obrigação’ e jogar por terra todo o esforço realizado”, finaliza.

Saiba mais!

A Vivescer preparou uma matéria com dicas para fazer uma boa sistematização de práticas pedagógicas. Confira!

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