Dicas de como lidar com a indisciplina na sala de aula

Situações de indisciplina na sala de aula exigem olhar atento, planejamento pedagógico e favorecimento de vínculos e afetos

A indisciplina na sala de aula é um dos principais desafios enfrentados pelos professores no cotidiano escolar. E a percepção geral é que ela aumentou depois da pandemia. Segundo levantamento da Nova Escola de julho de 2022, sete a cada dez professores consideram que os estudantes estão mais agressivos

O aumento de doenças psicológicas por conta do isolamento social, a falta de socialização com outros estudantes e o agravamento da vulnerabilidade das famílias são alguns dos motivos apontados pelos professores ouvidos pela pesquisa que agravam distúrbios de comportamento entre os estudantes. 

A boa notícia é que existem estratégias que ajudam não só a solucionar situações de indisciplina como também melhorar a convivência de todos na escola. Vamos apresentar algumas delas abaixo, mas antes é importante entender o que um ato de indisciplina pode significar. 

O que revela a indisciplina na sala de aula?

A indisciplina está relacionada a uma insurgência a não adotar, admitir ou até mesmo compreender um conjunto de regras e princípios da ação e do comportamento. “Alguns autores definem a indisciplina como uma manifestação perturbadora de um ambiente, contexto ou espaço, e das pessoas que lá estão”, explica Maria Teresa Ceron Trevisol, professora da graduação e do Programa de Pós-graduação em Educação (PPGEd) da Universidade do Oeste de Santa Catarina. 

Como pesquisadora vinculada à Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Psicologia (ANPEPP) e à Associação Nacional de Pós-graduação e Pesquisa em Educação (ANPEd), ela conduz pesquisas que têm como foco conflitos interpessoais, bullying e convivência nas escolas. Segundo Trevisol, a indisciplina é um problema multifacetado e que pode estar relacionado com uma série de ausências (seja de cuidado, de tempo ou de regras) que determinado indivíduo tem ao longo de sua vida. 

 “A indisciplina pode ter na sua base uma questão pessoal, uma questão familiar, moral, de valores, de ausência de princípios, uma questão pedagógica e também de compreensão sobre qual o lugar que um indivíduo ocupa num coletivo”, descreve a professora. 

Sendo assim, é fundamental que os professores tentem compreender o que está por trás de comportamentos inadequados em vez de considerar apenas aspectos isolados. Esse olhar sensível e atento deve ser combinado a uma boa formação profissional que permita a organização adequada dos processos educativos.

“Nem sempre é fácil mapear todos os aspectos por trás da indisciplina, mas, do ponto de vista didático-pedagógico, muitos deles podem ser encaminhados quando o professor consegue oferecer um processo de ensino que seja motivador, que combine diferentes plataformas e recursos, que aguce os interesses dos estudantes e que ofereça caminhos de envolvimento cognitivo e afetivo. Para isso, ele deve ter clareza de seus objetivos e informar aos estudantes a intencionalidade de suas ações”, indica a professora. 

Construção de afeto

Boa parte da indisciplina tem a ver com o não consenso sobre determinados assuntos ou situações. Mas, em uma pesquisa que conduziu com estudantes há alguns anos, a professora Maria Trevisol descobriu que a indisciplina é, muitas vezes, uma tentativa de chamar a atenção dos professores. “O estudante quer se aproximar, quer que os professores o conheçam melhor. Por isso, resolver questões de convivência passa pelo afeto e pela construção de vínculo”, diz. 

Essa é a missão de toda a escola, não só de quem está na sala de aula. “Há muitas escolas por todo o Brasil que estão implementando programas que têm a temática da convivência como grande orientadora do movimento educativo”, destaca a pesquisadora, enfatizando que a convivência saudável e respeitosa na escola favorece o bem-estar geral e amplia as possibilidades de desenvolvimento humano e de construção de conhecimento. 

Escuta, diálogo e respeito

Na turma de 1º ano de ensino fundamental da Escola Tarsila do Amaral, em São Paulo (SP), os conflitos aparecem quando há divergências de opinião entre os estudantes, disputa por liderança em brincadeiras ou busca por atenção. Nessas situações, a professora Sarah Gervasoni aposta em resoluções coletivas a partir de rodas de conversa com os estudantes. 

“A sala de aula precisa ser um espaço de fala e de escuta, então a gente organiza rodas de conversa para que as crianças falem sobre como se sentem diante de situações desafiadoras e do que elas gostam ou não nas relações com a turma. Eu fico como mediadora dessa conversa, trazendo alguns pontos para aprofundar a reflexão”, explica. 

A professora sente os resultados, e os estudantes também. “A gente percebe que as crianças querem conversar, querem dividir e discutir situações de conflito. Até quando elas não estão envolvidas diretamente, elas gostam de contribuir ajudando os colegas. Com diálogo, respeito e coletividade, estamos conseguindo driblar a indisciplina”, afirma a professora. 

Diversificação de estratégias

A professora do Colégio Marista Paranaense, de Curitiba (PR), Ana Beatriz Ramalho notou que o período de isolamento social causado pela pandemia afetou a capacidade de relacionamento e cumprimento de regras e combinados. Desde o início do ano, está adotando uma série de estratégias para melhorar a convivência na sala de aula. 

“Sabemos que interações sociais são cruciais para o desenvolvimento emocional e cognitivo. Quando os estudantes apresentam essas dificuldades em se relacionar com os outros, isso tem impacto na autoestima, autoconfiança e no desempenho acadêmico, gerando um desinteresse pela indisciplina na sala de aula”, explica a professora. Assim, as estratégias que ela utiliza visam construir um ambiente seguro, acolhedor e respeitoso para que seus alunos se sintam confortáveis para serem eles mesmos e para interagir com os pares. 

Um dos maiores problemas que ela percebeu no início do semestre é que seus estudantes do 5º ano do ensino fundamental estavam muito resistentes a trabalhar em duplas ou em grupos. Assim, ela passou a distribuir cartões ilustrados na entrada da sala de aula. Cada cartão tem um par correspondente. Os estudantes se juntam com seus pares e fazem todas as atividades do dia em parceria. 

Ao final, eles devem sinalizar em post-its algo que aprenderam com o colega. Todos os relatos ficam expostos num mural na sala de aula para que todos vejam. A cada novo dia, uma nova parceria e novos aprendizados são relatados. 

Outra estratégia que a Ana Beatriz Ramalho utiliza são os cartazes informativos e bem-humorados nas paredes da sala de aula. Em um deles, há uma escala para o nível de voz que auxilia no reconhecimento do barulho aceitável em diferentes contextos. 

Na sua sala de aula, também faz sucesso um cartaz que promove cinco passos a serem realizados antes da explicação de alguma atividade em sala de aula. “Antes de iniciar qualquer explicação temos um sinal. Após as orientações, abre-se espaço para dúvidas e perguntas. A ansiedade diminuiu consideravelmente. O tempo de atenção acaba sendo maior que antes”, disse. 

A combinação de estratégias está contribuindo para resolver situações de conflito e de indisciplina, além de auxiliar na construção de vínculos. “Percebo que eles estão mais tolerantes, se ajudando e se respeitando mais. É um longo caminho, mas os resultados até agora estão sendo muito positivos”, avalia a professora. 

Confira aqui um resumo com dicas para combater a indisciplina na sala de aula:

  1. A indisciplina tem causas multifatoriais. Em vez de rotular os estudantes como agressivos ou bagunceiros, tente mapear o que está por trás dessas atitudes. 
  2. Tenha clareza de seu projeto pedagógico e explique seus objetivos e intencionalidade para seus estudantes. 
  3. Diversifique estratégias e ferramentas pedagógicas, considerando o estudante como participante do processo. 
  4. Organize espaços de escuta e fala para que os estudantes possam dividir anseios, construir afetos e encontrar soluções coletivas para situações de conflito. 
  5. Estimule sua escola a adotar programas de convivência como norteador das relações humanas que acontecem nesse espaço.

Faça combinados com os estudantes e cole cartazes na sala para que os acordos não se percam pelo caminho.  

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