Como despertar a consciência ambiental dos estudantes

Conexão com o território e escuta são estratégias importantes para aproximar os jovens do tema

Aumento da temperatura global, alteração no regime de chuvas, inundações, redução da biodiversidade e desastres naturais. Em junho, quando é celebrado o mês do meio ambiente, é comum que essas discussões ganhem mais espaço nas escolas. No entanto, a crise climática é um tema urgente que deve ser trabalhado de forma interdisciplinar durante todo o ano letivo. Afinal de contas, a sala de aula é um espaço privilegiado para despertar a consciência ambiental das novas gerações. 

De acordo com a pesquisa JUMA (Juventudes, Meio Ambiente e Mudanças Climáticas), lançada neste ano por cinco entidades da sociedade civil, quando o assunto é clima, 8 a cada 10 jovens entrevistados concordam que a situação é de crise, mas 36% deles admitem que não conhecem o bioma de onde vivem. 

Diante da falta de informação identificada pela pesquisa, como sensibilizar os jovens para a causa ambiental? Para a professora de geografia Maria do Carmo Andrade, o caminho foi aproximar esse debate da realidade dos estudantes. Na Escola Estadual do Campo de Pedra Vermelha, localizada na área rural de Monte Santo (BA), a preservação do bioma local foi o ponto de partida para conscientizar a turma. 

“A maioria das pessoas aqui da comunidade sobreviviam da retirada da Caatinga para plantar capim, o que gerava uma devastação muito grande. Percebendo isso, comecei a explicar para os alunos que essa prática amplia o impacto das mudanças climáticas na nossa região, que já sofre com a seca”, conta Maria do Carmo. 

Com a proposta de engajar os jovens na preservação local, a professora passou a enfatizar o tema durante as suas aulas. Em 2017, com a doação de mudas da Escola Família Agrícola do Sertão, também em Monte Santo, a turma desenvolveu uma de suas primeiras ações concretas: “Participamos de uma feira de saúde do município, onde instalamos uma barraquinha com uma placa bem grande. Nela, estava escrito: SUS-TEN-TA-BI-LI-DA-DE”, recorda. 

Entre as ações de conscientização, foram disponibilizadas mudas nativas da Caatinga para os moradores plantaram e contribuírem com a recuperação da vegetação local. Mesmo durante a pandemia, as atividades não foram completamente interrompidas.” Elas eram feitas online, e os estudantes mandavam fotografias para mim. Eles conseguiam mudas e limpavam áreas ao redor da casa deles.”

Neste ano, a partir dos temas do desmatamento, da poluição das águas e do gerenciamento de resíduos sólidos, ela incentivou a turma a produzir podcasts, cordéis, poesias, desenhos, músicas e cartazes. No dia 5 de junho, data em que se celebra o Dia Mundial do Meio Ambiente, eles divulgaram suas produções pelas redes sociais e chamaram a atenção do município. “Até o secretário de educação daqui veio me elogiar e perguntar como eu tinha conseguido envolver tanto esses meninos na causa. Eles gostam de redes sociais, então temos que aproveitar esse interesse para que eles também contribuam com a educação ambiental”, afirma. 

Na Escola Estadual Professor Ary Bocuhy, em Araçatuba (SP), o interesse dos estudantes também foi o ponto de partida para as atividades de educação ambiental. Durante uma aula de biologia, a professora Yasmin Leon percebeu que a turma ficou curiosa para entender mais sobre compostagem, processo que transforma matéria orgânica em adubo natural. A partir daí, ela reorganizou algumas atividades para aprofundar o conteúdo. “Aos poucos, fomos descobrindo o que podia ou não ir na composteira, qual era a diferença entre a compostagem seca e a vermicompostagem, que utiliza minhocas”, explica. 

Para visualizar os conceitos pesquisados, os jovens também construíram pequenas composteiras em garrafas PET. “Com isso, eles conseguiram entender o processo de tudo o que estudaram teoricamente. Em seguida, também conseguimos a doação de uma composteira doméstica, daquelas por sistema de caixas”, celebra Yasmin. 

Como estratégia para estimular a consciência ambiental dos estudantes, a dica dada pela professora é investir na escuta. “É preciso ouvir os alunos, entender o contexto deles e, com isso, trazer atividades condizentes. Isso torna o aprendizado mais significativo”, garante a professora. 

Em sua avaliação, também é preciso expandir o olhar para trazer novos temas para a sala de aula. “Às vezes nos prendemos muito a alguns temas, como reciclagem. Mas podemos fugir um pouco do tradicional para buscar, dentro da nossa própria comunidade, o que é de interesse dos alunos, aquilo que eles valorizam de fato”, finaliza. 

Respostas

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *