Plantio, colheita e alimentação saudável: a horta para mudar hábitos na escola

Educadoras contam como experiência de cultivo encoraja que crianças experimentem novos alimentos e entendam mais sobre plantações, ciclo da água, amadurecimento de frutos, rendimento dos alimentos e partilha com colegas 

A construção de uma horta na escola traz oportunidades que vão além do desenvolvimento de consciência sobre sustentabilidade. Os benefícios do trabalho com cultivos e plantações envolvem também os hábitos alimentares de estudantes, educadores e demais funcionários e da própria comunidade escolar como um todo. 

A professora Kamila Rumi teve uma experiência positiva com a horta na Escola de Aplicação da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo. Atuante na instituição desde 2007, trabalha com alunos do 1º ano do ensino fundamental, que, semanalmente, aprendem procedimentos de preparo da terra, plantio de sementes, cultivo e colheita. Para ela, a horta escolar é um rico espaço de experimentação, ensino e aprendizagem de conteúdos conceituais, procedimentais e atitudinais. 

“O ensino por investigação mostra-se como uma excelente forma de garantir protagonismo dos estudantes em seus processos de aprendizagem nesse laboratório a céu aberto, com postura crítica e investigativa”, explica. 

Compromisso institucional

Ela reforça a importância do papel dos educadores em fazerem o melhor uso do tempo que as crianças estão na escola, incentivando a melhoria de suas práticas e hábitos pessoais. 

“Os estudantes estão expostos a muitos estímulos, a diferentes modelos, valores e sabores em seu cotidiano. Como educadores, escolhemos como e com o que vamos “preencher” o tempo de contato que teremos com eles na escola. Nesse contexto, a opção por práticas sustentáveis revela nossas escolhas e convicções, lembrando e ressaltando que, para que a equipe de educadores faça essa escolha, a instituição precisa oferecer e garantir recursos materiais e humanos.” 

Para que o trabalho na horta seja possível, portanto, Kamila reforça que são necessárias boas condições de trabalho para que os estudantes sejam acolhidos de forma segura e com uma proposta pedagógica interessante, o que envolve recursos materiais e humanos. “Uma horta escolar demanda uma equipe que cuide do espaço, prepare o solo, separe os materiais antes da aula, regue a horta nos dias secos e quentes e no período do recesso escolar. Uma aula semanal na horta não possibilita uma boa colheita.”

Múltiplas possibilidades

Explorar alimentação saudável a partir da vivência na horta pode ser feito a partir de diferentes formas e graus de profundidade. Kamila defende que o esclarecimento é fundamental e que muitos conteúdos podem ser trabalhados para sustentar a defesa de uma alimentação saudável. Entretanto, o caminho mais simples é a partir de vivências que criam memórias afetivas. 

Visitar uma árvore carregada de acerolas maduras pode ser uma verdadeira aula, pois as crianças aprendem a: 

– escolher os frutos mais maduros; 

– respeitar o tempo de amadurecimento de frutos verdes; 

– deixar os frutos no alto para os passarinhos; 

– pegar somente o suficiente para o preparo de um suco; 

– perceber o rendimento da fruta; 

– compartilhar com outras pessoas da escola. 

“No calor do dia, na ansiedade e empolgação com todo o processo com pares, faz o sabor do suco contar com um toque especial. Quem nunca tomou, experimenta com certa desconfiança e logo diz que gostou. Quem não gostou ‘de primeira’, ao observar os colegas pedindo repetição, decide experimentar mais uma vez, com um pouquinho mais de açúcar, e diz que dessa vez ficou melhor. E quem não gostou, pode voltar para casa e dizer que ao menos experimentou”, celebra Kamila. 

A educadora reforça que é importante ter em mente que mudanças de hábitos não são tão simples e que nem todos gostam do que experimentam, que podem simplesmente recusar ou pedir mais açúcar e temperos. 

“A alimentação envolve construção, ou, na maioria das vezes, mudança de hábitos que não se transforma da noite para o dia e nem sempre somente com o conhecimento de informações. A mudança costuma envolver compromisso com escolhas, que são movidas por convicção em valores. A vivência com afeto favorece para que o processo de mudança seja mais leve e natural, não por obrigação, mas por decisão.” 

Novos caminhos

Os ensinamentos se aplicam a todas as idades, e as práticas também podem se aproveitar das características de cada local. Maria Ilda Amaral, professora da EMEIEF Cecilia Desthefani Secchin, localizada na comunidade Morro Vênus, na zona rural de Castelo, no Espírito Santo, conta que observa que as pessoas não têm hortas em casa e costumam ir à cidade para comprar os alimentos, mesmo que tenham espaço para o plantio e cultivo saudável com adubos orgânicos, por exemplo. 

Professora de ciências há 30 anos, começou a atuar na educação em uma escola de tempo integral, onde desenvolveu várias iniciativas envolvendo temas relacionados à educação ambiental e no campo. “A partir daí, mesmo trabalhando em escolas urbanas, sempre tentei implantar essa prática com os alunos, incentivando a reciclagem de garrafas PET, fazendo hortas suspensas e outras atividades.” 

Segundo a educadora, o trabalho com a horta na escola envolve diversas turmas do Ensino Fundamental 2, do sexto ao nono ano, e incentiva que não só os estudantes, mas também outros educadores possam refletir sobre o processo de plantação e colheita e alimentação saudável. 

“Um dos objetivos do trabalho com a horta é que as crianças observem as plantações na prática. Muitas comem cenoura, mas não conhecem um pé de cenoura, ou repolho e rabanete. Essa semana a turma do 2º ano fez a colheita de rabanetes e foi uma festa. Falamos da sua importância na alimentação e todos comeram na salada do almoço, mesmo sendo picante”, conta Maria Ilda. 

Mesmo que o espaço destinado à horta na escola não seja grande, a professora conta que o trabalho é possível a partir de um remanejamento das hortaliças. Além de deixar até mesmo outros educadores entusiasmados, o projeto mobilizou os estudantes, que elaboraram um sistema de irrigação automático. 

Fique por dentro

Para orientar educadores e incentivar que cada mais pessoas se aprofundem no tema, a Vivescer lançou o e-book gratuito “Horta Escolar – Aprendendo com a Natureza”. O material traz dicas detalhadas para o desenvolvimento de uma horta escolar ao longo de seis aulas. 

Todo o percurso está disponível neste link. Acesse e compartilhe sua experiência com a gente por WhatsApp: (22) 98111-3620.

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  1. Temos projeto de horta escolar, com resgate de ervas medicinais, verduras e plantação de árvores frutíferas e nativas. Temos tbem na região Projeto Lixo Zero, reciclagem, compostagem, organização do jardim escolar e florestinha com flores, folhagem ,orquídeas, onde alunos e comunidade participam da construção do projeto.