Educação física pode ser importante aliada no desenvolvimento socioemocional dos estudantes

Quatro alunos (em média 10 anos) em uma quadra depois do jogo. Os dois mais atrás comemorando uma vitória em um jogo e mais a frente uma aluna chorando por ter perdido o jogo e um outro aluno a consolando. Estudos internacionais comprovam que crianças e jovens que se movimentam na escola podem desenvolver habilidades de comunicação, liderança, responsabilidade, tomada de decisão e resolução de problemas 

Inúmeras pesquisas e estudos já comprovaram que os benefícios da educação física vão além da saúde: os exercícios podem contribuir até mesmo no rendimento escolar dos alunos, uma vez que a prática de esportes e atividades corporais libera hormônios que promovem o bem-estar e, assim, ajudam na concentração dos estudantes [saiba mais]. 

Mas, além dos benefícios para o desempenho acadêmico dos estudantes, as propostas que envolvem movimentação corporal também conseguem ter efeitos diretos na dimensão socioemocional de crianças e jovens. 

Os estudos Critical considerations for physical literacy policy in public health, recreation, sport, and education agencies, da Austrália, e Toward the development of a pedagogical model for health-based physical education, da Holanda, ambos de 2017 e analisados pelo Impulsiona, apontam que não só as atividades de educação física têm benefícios relacionados ao desenvolvimento socioemocional, mas que esses pontos positivos se tornam ainda maiores quando as propostas acontecem  em condições de equidade e em contextos pedagógicos positivos, com mediação do professor ou da professora. 

Além do bem-estar

Comunicação, colaboração, trabalho em equipe e criatividade foram alguns dos principais benefícios citados pelos estudantes universitários de Educação Física da Universidade Estadual do Ceará (UECE) consultados pela Vivescer. 

Em jogos coletivos, por exemplo, as crianças e jovens devem trabalhar juntos para alcançar o objetivo da proposta. Para isso, precisam conversar e exercer uma comunicação clara, colaborar e pensar em soluções e estratégias criativas. 

Há outros tipos de benefícios que vão além da prática em si. Samara Vitor Amorim, por exemplo, cita como a educação física pode ajudar em questões relacionadas à saúde mental dos alunos a partir da liberação dos hormônios proporcionada pelas atividades físicas. 

“Havendo uma prática de educação física na escola, podemos considerar que os alunos praticantes, dependendo de sua idade, poderão ter uma melhora dos sintomas de ansiedade e hiperatividade, fatores cada vez mais pertinentes em nossa atualidade. A prática também faria com que os alunos mais tímidos conseguissem interagir com seus colegas”, explica. 

Ana Clarice Sousa do Nascimento, por sua vez, comenta sobre a importância da vivência de vitórias e derrotas para o desenvolvimento dos alunos. “Na educação física escolar, é trabalhado a socialização e resolução de desafios por intermédio de jogos, brincadeiras e atividades diversas. O interagir com o outro, lidar com a derrota e vitória em um jogo e respeitar as regras e o próximo são fatores importantes no desenvolvimento da criança no ambiente escolar.” 

Rondineli Sales Silva completa: “Com o profissional de educação física bem preparado, é possível fazer com que os alunos exercitem momentos de derrota e de vitórias, ensinando a eles como devem agir. Atividades envolvendo resolução de problemas é outra forma de trabalhar, pois assim os professores podem treinar indiretamente as crianças e jovens para o mundo do trabalho.”

Gabriel Ferreira Marques também reforça que a prática de atividades físicas pode apoiar a criança ou jovem a raciocinar, exercitar a memória e a linguagem dos exercícios, compreender situações e pensar em estratégias, além de ajudar no amadurecimento social e emocional e na aprendizagem dentro da sala de aula. 

Benefícios comprovados

Além de todas as habilidades citadas, as práticas esportivas também permitem que os estudantes vivenciem e desenvolvam: liderança, cooperação, pensamento rápido, responsabilidade, resiliência, protagonismo, tomada de decisão, socialização, respeito, diálogo, resolução de conflitos, entre outras. 

O estudo holandês Personal and social development in physical education and sports: A review study, também consultado pela Vivescer, faz uma análise de toda a literatura sobre práticas de educação física e desenvolvimento socioemocional do período de 2008 a 2017. 

De 88 pesquisas consultadas do mundo inteiro, 62 tratam especificamente do impacto da educação física nas competências socioemocionais entre crianças e jovens de 6 a 18 anos. Dessas 62 pesquisas, 54 apontaram impacto positivo para o desenvolvimento de comportamentos pró-sociais; 32 para a capacidade de controle e gerenciamento; e 32 para a ética no trabalho. 

As 11 competências socioemocionais mencionadas são: comportamento pró-social; controle e gerenciamento; cooperação; responsabilidade; liderança; estabelecimento de metas; ética de trabalho; tomada de decisão; resolução de problemas; conhecer pessoas e fazer amigos; e comunicação. 

Importância do incentivo

Sempre haverá um ou mais alunos resistentes à prática esportiva na escola. Seja por vergonha, medo ou por simplesmente preferirem fazer qualquer outra coisa, essas crianças e jovens podem representar um desafio para os educadores. O importante não é forçá-las a participar, mas sim buscar despertar seu interesse por práticas alternativas. 

Para Antonio Lima Neto, por exemplo, o maior diferencial é como a atividade é apresentada pelo professor. “Tirar os alunos da zona de conforto deve ser feito com conhecimento do que estará propondo a aplicar e mostrar que os alunos são os protagonistas dentro dessa ação.” 

Para apoiar os educadores, os alunos de educação física listaram algumas dicas: 

– não se limitar a somente ao uso de bolas;

– utilizar metodologias diversificadas para que a aula seja mais atraente e dinâmica;

– identificar desafios pessoais de cada estudante; 

– deixar claro aos estudantes o propósito e razão de cada atividade. 

Diversificando as propostas

E para aqueles que dizem não gostar dos tipos mais tradicionais de esportes, há outras opções de atividades físicas. Confira algumas: 

– dança (clássica, de salão, urbana); 

– artes marciais; 

– pular corda; 

– bambolê; 

– jogo de dama ou xadrez humano; 

– ioga; 

– skate; 

– ginástica artística;  

– circuitos de competição; 

– corridas e caminhadas; 

– natação; 

– capoeira.

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