Professora comenta estratégias de combate ao bullying nas escolas
7 de abril marca o Dia Nacional de Combate ao Bullying e à Violência na Escola; confira ações para envolver os alunos e funcionários e tornar o ambiente escolar seguro para todos
É difícil conhecer alguém que nunca tenha presenciado algum caso de bullying nos tempos de escola. 23% dos estudantes foram vítimas de algum tipo de intimidação na escola nos 30 dias que antecederam a PeNSE 2019 (Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar), do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Na internet, o cenário se repete: cerca de 1 a cada 10, ou 13,2% dos adolescentes, afirmam que já se sentiram ameaçados, ofendidos e/ou humilhados em redes sociais ou aplicativos.
Por mais que seja comum, o bullying é prejudicial para crianças e jovens e, em alguns casos extremos, pode até mesmo interferir no desenvolvimento pessoal e resultar em verdadeiras tragédias, como o caso que ficou conhecido como Massacre de Realengo e inspirou a criação da Lei 13.277/2016, que institui o Dia Nacional de Combate ao Bullying e à Violência na Escola.
No dia 7 de abril de 2011, um ex-aluno da escola municipal Tasso da Silveira, no bairro de Realengo, no Rio de Janeiro (RJ), invadiu a instituição e, depois de matar 12 jovens e deixar cerca de 22 feridos, cometeu suicídio. Em carta, o jovem diz ter sofrido bullying na escola.
Bullying x brincadeira
Muitas pessoas ainda se apoiam no argumento de que casos de bullying são apenas brincadeiras, justificando que, atualmente, tudo é considerado “politicamente correto demais”. Entretanto, identificar quando um ato trata-se ou não de bullying é simples: quando fere os sentimentos do outro, já ultrapassou o nível da brincadeira.
De acordo com a Lei 13.185/2015, que institui o Programa de Combate à Intimidação Sistemática, considera-se bullying “todo ato de violência física ou psicológica, intencional e repetitivo que ocorre sem motivação evidente, praticado por indivíduo ou grupo, contra uma ou mais pessoas, com o objetivo de intimidá-la ou agredi-la, causando dor e angústia à vítima, em uma relação de desequilíbrio de poder entre as partes envolvidas.”
Para Mary Sônia de Alencar, especialista em psicopedagogia e professora da Escola Estadual Ministro Waldemar Pedrosa e Colégio Nossa Senhora do Carmo, em Parintins, no Amazonas, a palavra chave é respeito. “Quando há respeito, a brincadeira é alegria e há participação mútua entre as partes envolvidas. Quando acontecem atos de humilhação, agressão e só uma parte se sente feliz, é bullying. O limite de toda boa convivência sempre será o respeito.”
Em 2021, Mary criou, com seus alunos do 5º ano do Ensino Fundamental, o projeto “Soltando a voz: eu tô melhor agora”, sensibilizando não só os estudantes, mas toda a comunidade escolar sobre a importância de bons hábitos de convivência.
A ação teve início com uma pesquisa entre os estudantes, seguida de uma assembleia com o tema convivência na escola, onde puderam colocar suas opiniões sobre conflitos e situações de violência. Foi aí que a professora apresentou o termo ‘bullying’ e, junto com os alunos, criou um quadro com todas as ações que podem representar esse comportamento e seus significados.
As crianças também fizeram uma leitura da Lei 13.185 e, em seguida, compararam o texto da legislação com os comportamentos previamente mapeados. O projeto contou ainda com a leitura de outros textos, rodas de conversa e entrevistas com demais professores e funcionários da escola questionando se já haviam sofrido, praticado ou presenciado bullying.
Depois dessas etapas, o projeto culminou na produção de textos individuais e coletivos a partir de múltiplos recursos, como poemas, vídeos para internet e fotografias.
Força tarefa
A prática do bullying não envolve apenas os estudantes participantes e o professor, porque os atos intimidatórios criam uma verdadeira atmosfera de insegurança entre os alunos em um ambiente que deveria ser confortável e acolhedor para todos.
Por isso, o combate ao bullying deve ser um objetivo comum de todos os educadores e demais funcionários de uma instituição de ensino. Para Mary, um passo nesse caminho é incentivar a empatia em todos os ambientes de convivência das crianças, inclusive na mediação de conflitos, procurando envolvê-las em uma comunicação de respeito e cordialidade.
Ações
Algumas estratégias para promover o engajamento de todos, além dos projetos pontuais, são rodas de conversa com todas as turmas de determinado ano, por exemplo. “É possível promover encontros, assembleias e debates com estudantes do mesmo ou de diferentes anos e idades para pensar e refletir sobre as atitudes comportamentais que podem provocar o bullying”, cita Mary.
A ideia é que esses momentos possam ajudar a endereçar os desafios de convivência e, com isso, criar coletivamente um ambiente mais agradável.
“A partir de medidas de prevenção, que incluem o desenvolvimento socioemocional e incentivo à empatia e respeito, a escola inicia a construção da conscientização sobre o bullying tanto com as crianças quanto com sua família, alertando-os acerca dessa prática negativa que pode gerar penalizações aos agressores.”
O Programa de Combate à Intimidação Sistemática conta, entre seus objetivos, com as missões de:
- Prevenir e combater o bullying em toda a sociedade;
- Capacitar docentes e equipes pedagógicas para a implementação das ações de discussão, prevenção, orientação e solução do problema;
- Implementar e disseminar campanhas de educação, conscientização e informação;
- Instituir práticas de conduta e orientação de pais, familiares e responsáveis diante da identificação de vítimas e agressores;
- Dar assistência psicológica, social e jurídica às vítimas e aos agressores, entre outras.
Fique por dentro
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