Trabalhar questões climáticas na escola pode ajudar a formar adultos mais conscientes, afirma professora

Dayane de Sousa dá dicas para despertar interesse dos estudantes em ciências e sugere atividades práticas que conectam propostas à realidade de crianças e jovens

Cerca de 81% da população brasileira acha a questão do aquecimento global muito importante e 61% se diz muito preocupada com o meio ambiente. No entanto, entre 2020 e 2021, a taxa de pessoas que afirmam saber muito sobre as mudanças climáticas caiu de 25% para 21%, como mostra a pesquisa Mudanças Climáticas na Percepção dos Brasileiros 2021. A sensibilidade ao tema e o grau de conhecimento são maiores entre pessoas com ensino superior. 

Mas será que o assunto pode ser trabalhado com crianças para, desde cedo, incentivar a conscientização sobre a importância do cuidado com o planeta? Dayane de Sousa, química, pedagoga e professora da rede estadual de São Paulo, prova que sim. 

Promover debates sobre aquecimento global e mudanças climáticas com os alunos pode, segundo ela, garantir uma geração mais engajada e atuante nessa temática. “Acredito que é esse o papel da educação: criar cidadãos críticos, autônomos e solidários. Quanto mais eficiente formos em discutir questões climáticas durante a escolarização, mais conscientes serão os adultos.”

Adequando o tom

Apesar de ser um tema que pode ser discutido com todas as idades, a educadora reforça o olhar sensível para conversas adequadas à faixa etária. 

“Nunca é cedo demais para isso. Com os menores, uma ideia é desenvolver projetos mais simples, como a criação de vídeos curtos. Com crianças, uma abordagem mais lúdica e prática sempre é uma boa opção. Elas podem nos surpreender quando chamadas ao debate sobre questões climáticas e sua sinceridade infantil é realmente impressionante”, exemplifica. 

Do teórico ao prático

A participação em propostas e atividades que incentivam o engajamento de crianças e jovens pode ser traduzida como protagonismo, em um movimento que os coloca como sujeitos da ação, conforme explica Dayane. 

“Quando os alunos se colocam no papel de cientistas mirins e pesquisadores, seguido de um processo de divulgação e debate de resultados, isso faz com que percebam que são parte da solução, tornando a abordagem mais eficiente,”

É o caso da disciplina eletiva Dados à Prova D’Água, desenvolvida em conjunto com pesquisadores da FGV (Fundação Getúlio Vargas) em parceria com as universidades de Glasgow e Warwick (Reino Unido), Heidelberg (Alemanha,) e o Cemaden (Centro de Monitoramento de Alertas de Desastres Naturais), no Brasil. 

Dayane integra o grupo de pesquisa do projeto desde 2019. Com duração semestral, a proposta visa trabalhar conceitos como ciência cidadã; riscos e desastres; vulnerabilidade; resiliência; alagamento; inundação; enxurrada; conhecimento do território por meio do mapeamento; história da comunidade; produção de dados e dados governamentais.

Em uma das aulas, os estudantes de Dayane desenvolveram “pluvipets”, pluviômetros artesanais construídos com uma garrafa PET de dois litros. Além de incentivar o gosto pela ciência, a proposta de caráter prático visava ajudá-los a monitorar o índice das chuvas e eventuais pontos de alagamento e áreas de risco com a ajuda de um aplicativo. 

Promover conexões entre o assunto estudado e a realidade dos jovens é uma estratégia que sempre rende bons frutos. Dayane exemplifica ao afirmar que trabalhar queimadas em um local que sofre com alagamentos não terá o mesmo nível de assimilação entre os estudantes. Entretanto, o exercício é encontrar pontos comuns entre os temas de forma a despertar o interesse e, assim, promover o engajamento. 

“Conhecer o território onde os alunos vivem cria mais chances de uma conexão com o conteúdo. Os professores precisam coletar e trabalhar dados e temáticas locais, mas nada impede de, vez ou outra, trazer assuntos que, mesmo distantes, possam ser relacionados.” 

Esforço coletivo e interdisciplinaridade

A educadora explica que as atividades sobre mudanças climáticas não precisam se restringir às aulas de uma única disciplina. Na observação, coleta e análise de quantidade de chuvas, podem ser envolvidos os professores de ciências e matemática. O de geografia fica responsável por auxiliar na compreensão do território. Já os de língua portuguesa e arte podem apoiar na publicação e divulgação dos resultados do experimento. 

“Ao abordar as mudanças climáticas, tema muito abrangente, a partir de uma problemática e sugerindo atividades que instiguem os estudantes na resolução de problemas, isso faz com que eles tenham que recrutar diversas habilidades, e possibilita que professores das distintas áreas do conhecimento possam criar oportunidades de aprendizagem em conjunto.” 

Influência multiplicada

Abordar o tema com crianças e jovens ainda na escola também é uma forma de atingir os adultos e, com isso, multiplicar a compreensão sobre o meio ambiente e seus fenômenos. 

Dayane conta que, certa vez, ouviu um relato de uma mãe que dizia ‘agora, se jogo lixo na rua, sou logo repreendida’. Sua filha, aluna de Dayane, havia participado do projeto Dados à Prova D’Água. 

“Famílias formadas com olhos na preservação e conservação do meio ambiente são o futuro para uma vida melhor para todos. Da mesma forma que meninos e meninas podem influenciar seus pais e familiares, também, algum dia, serão chefes de suas famílias e recrutarão aquilo que foi desenvolvido durante o tempo que passaram na escola”, afirma a professora. 

Fique por dentro

A abordagem defendida pela professora Dayane incentiva que o aluno esteja, a todo momento, no centro do processo de aprendizagem.

Você pode encontrar outras estratégias que têm essa mesma proposta na Jornada Mente, curso gratuito e certificado da Vivescer. Saiba mais! 

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