Pandemia obrigou escolas a repensarem a avaliação dos alunos

 

Para Letícia Lyle, sócia-fundadora da Camino School, as mudanças educacionais ocasionadas pela pandemia forçaram os professores a pensar em como a avaliação deve ir além de conhecimento e conteúdo e envolver todo o processo de aprendizagem.

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É claro que não se deve falar em oportunidades em um contexto de luto e perdas de vidas ocasionado pela pandemia de Covid-19. Entretanto, o fechamento das escolas obrigou que coordenadores e professores encontrassem novos caminhos para promover a avaliação dos conteúdos que foram ensinados durante o ensino remoto.

Para Letícia Lyle, professora do Instituto Singularidades e sócia-fundadora da Camino Education, escola de São Paulo (SP), um dos principais desafios quando o assunto é avaliação em tempos de pandemia foi a mudança abrupta nas formas de ensinar, que têm interferência direta na maneira como as avaliações são realizadas. “Durante a pandemia, a forma com que sempre fizemos avaliação não estava mais condizente com a forma que estávamos ensinando e muito menos com os jeitos de demonstrar aprendizagem no ensino remoto. As formas de ensinar e demonstrar aprendizagem mudaram. É claro que não poderíamos exigir o mesmo resultado partindo de uma forma diferente de ensinar.”

Trata-se, portanto, de promover avaliações condizentes com a proposta de aprendizagem. Nesse sentido, Letícia explica que o ensino remoto também foi um momento de repensar o que e como estava sendo feito até então em termos de avaliação. Para ela, o assunto demanda pensar ativamente sobre encontrar as melhores maneiras de demonstrar a aprendizagem que está sendo trabalhada com os estudantes. “A partir dessa pergunta, os professores poderão ser muito mais criativos e abrir mais espaço para diferenciação e individualização da aprendizagem.”

Inovação interfere na avaliação

O contexto de aulas remotas trouxe mais mudanças à educação do que é possível nomear. Além disso, considerando que ensinar e avaliar são ações diretamente conectadas, Letícia explica que é importante que a avaliação corresponda às inovações observadas nos formatos de aprendizagem adotados no ensino híbrido ou totalmente remoto.

“Quando a pandemia começou, o conceito de avaliação também teve que buscar outras referências além do conteúdo propriamente. Ou seja, o processo de avaliar passou a observar como é a participação do estudante, seu engajamento, motivação, resiliência, como lida com a frustração de ter que aprender conteúdos novamente, como ganha autonomia e outros pontos”, defende Letícia.

Essa nova forma de enxergar o próprio processo avaliativo pode apoiar professores a alcançarem mais estudantes, pois diversifica o olhar sobre as inúmeras formas de aprender, além de interferir na própria percepção dos alunos sobre quais estratégias funcionam melhor para si.

Isso também é verdade para metodologias inovadoras de ensino, como a aprendizagem ativa, quando o conteúdo e o conhecimento adquirido pelos estudantes não vêm apenas da aula expositiva, mas sim de diversos momentos e vivências.

Diversificando estratégias

É inegável que, em contextos nos quais a questão do acesso não é um desafio a ser superado, o mundo digital apresenta inúmeras ferramentas que apoiam o processo avaliativo, como quizzes, enquetes, formulários durante a aula, e outras métricas de aprendizagem.

Entretanto, Letícia comenta que também é possível diversificar as propostas de avaliação partindo de estratégias já utilizadas no cotidiano das aulas, mas com uma intenção diferente. “A pandemia nos mostrou que a avaliação também poderia acontecer a partir da criação de uma música, por exemplo, ou de um trabalho colaborativo entre um grupo de estudantes.”

Nesse contexto, muitos processos podem ser flexibilizados, desde que levem em consideração as motivações da avaliação, evitando que esse torne-se um processo vazio de sentido. “Algumas avaliações são institucionais e muito grandes, como o ENEM [Exame Nacional do Ensino Médio]. Então talvez não consigamos nesse nível, mas no dia a dia, em sala de aula, são questionamentos como ‘realmente preciso fazer essa prova individualmente?’, e uma reflexão sobre o que está sendo avaliado e como o estudante pode demonstrar a habilidade e competência em outros formatos que vão ajudar a fazer boas avaliações.”

Uma das estratégias que Letícia destaca são os portfólios, que devem conter as produções dos estudantes ao longo do tempo para que demonstrem a aprendizagem, mas também devem trazer o ponto de vista do professor, com suas expectativas diante da jornada de seus alunos.

“Costumamos dizer que, algumas vezes, temos que ajudar um estudante a perceber onde sua aprendizagem está e onde não está. Avaliações boas não demonstram só aquilo que você acertou ou conquistou. Elas trazem elementos de metacognição e espaço para você refletir e fazer uma autoavaliação sobre sua própria aprendizagem. Por isso, não devemos esquecer que tudo é informação. Então é um debate sobre como o professor pode ajudar o estudante a aproveitar esses processos para refletir e fortalecer as suas habilidades como aprendiz”, afirma Letícia.

 

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