6 dicas para professores no contexto da volta às aulas

Sala de aula de ensino fundamental com crianças sentadas e desenvolvendo trabalho em grupo

O coronavírus é o primeiro item na lista de muitas preocupações entre os docentes quando o assunto é volta às aulas. De acordo com a terceira onda da pesquisa Sentimentos e Percepção dos Professores Brasileiros nos Diferentes Estágios do Coronavírus no Brasil, do Instituto Península, 86% dos professores respondentes afirmam se preocupar com o funcionamento escolar em condições sanitárias adequadas para que se evite a disseminação da Covid-19.

Entre os apoios que mais gostariam de receber está orientações para lidar com os protocolos de retorno e questões de saúde (73%), assim como apoio para dar suporte emocional para os alunos (68%). Todas essas informações apontam para o fato de que são poucos os que se sentem encorajados a voltar ao trabalho presencial. Numa escala de 0 a 5, em que zero é nada confortável e cinco muito confortável, a média do nível de conforto de professores das redes privada, estadual e municipal em relação a volta às aulas é de 1,07.

Pensando em formas de acolher essas questões e, ao mesmo tempo, promover estratégias para que todos se sintam mais confortáveis com os próximos meses, a Vivescer conversou com Walquíria Castelo Branco, consultora e professora da CESAR School, centro de tecnologia, inovação e transformação digital localizado no Recife (PE) Confira seis atitudes que podem ajudar os docentes no retorno.

Menos cobrança, mais trabalho em grupo (mesmo que remotamente ou online)
“Nós sabemos de toda a complexidade do papel do professor em um momento como esse. Apesar de muito se exigir deles, os docentes precisam compreender que não podem fazer tudo sozinhos. Eles podem, sim, fazer muito, mas de forma estratégica. Aqui no Recife, um professor andava, todos os dias, 15 quilômetros de bicicleta para entregar a lição dos alunos porque a escola estava fechada e ele achava que era seu dever. O Brasil está cheio desses exemplos de educadores querendo resolver sozinhos problemas que, muitas vezes, são estruturais. Com isso, eles acabam se frustrando muito. Então, é preciso entender que há momentos, e esse é um deles, em que não poderão atuar sozinhos. É um tipo de problema tão complexo que ele precisará estar em contato com profissionais da saúde, da assistência social e de órgãos governamentais, além das famílias e comunidade.”

Acolher e considerar as aprendizagens da pandemia
“Não é porque crianças e jovens estavam fora da escola que não aprenderam. Eles aprenderam e muito, alguns deles aprenderam coisas dolorosas. Em um primeiro momento, o papel do professor é de acolher e entender o que se passou com cada estudante.”

Avaliar e não acelerar o conteúdo
“Uma coisa é a aprendizagem da vida e do cotidiano. Mas também tem a aprendizagem curricular. Um caminho é o professor realizar uma avaliação para saber o que os alunos aprenderam em termos de currículo. É a partir desses resultados que ele vai se planejar e entender o que é mais importante para o momento e, com isso, criar uma jornada qualitativa de conteúdos que consiga integrar o conhecimento da realidade que vem da experiência e o conteúdo curricular. Mas vale reforçar que não se deve fazer coisas como querer ensinar em dois meses o que os alunos não aprenderam no ano. Esse tipo de aprendizagem não existe. O Brasil vem em um movimento de melhorar seus índices da educação básica com muito esforço e trabalho dos professores, apesar de todas as dificuldades. Mas isso leva anos. Da mesma forma que levamos décadas para melhorar nossos índices, essa tragédia que se abateu sobre nós vai precisar de calma, planejamento, acolhimento e estratégia.”

Incentivar movimentos de repensar currículo e novas metodologias
“Acredito que essa é uma boa chance para a escola se repensar. Juntamente com os alunos que estão voltando, os educadores podem aproveitar que o currículo estará bem flexível por conta de tudo o que aconteceu para criar novas abordagens e metodologias que levem em consideração as experiências das pessoas, que compreendam os problemas e desafios da vida e o contexto da comunidade. Além disso, é importante colocar os alunos para falar e serem ouvidos, criando um verdadeiro protagonismo.”

Abordar assuntos epidêmicos em sala de aula
“Não podemos tentar engessar tudo dentro de sala e promover para uma aprendizagem voltada a atender grades curriculares e disciplinas como se nada estivesse acontecendo. Durante esses meses, foram faladas muitas coisas sobre ciência e tecnologia, de grupos interdisciplinares para produzir uma vacina, de um conhecimento complexo que a medicina e computação não dão conta sozinhas. A escola deve trabalhar com os alunos de forma interdisciplinar e conectar esses elementos que fizeram parte da vida deles com o currículo, e isso envolve tudo, como alimentação, vida social, o viver isolado, a parte de biologia, dos vírus, o aumento da pobreza e miséria, desemprego e desigualdade social, fake news (notícias falsas), negacionistas. Os professores precisam organizar tudo isso com as crianças, o que é muito mais importante do ponto de vista do equilíbrio emocional e intelectual, do que uma corrida frenética atrás de um conteúdo que está em um programa formal de ensino.”

Fortalecer comunidade de práticas
“Ao fazer uma busca, o professor com certeza vai encontrar outros educadores com os problemas que ele, seja no Brasil ou em outros países se ele tiver acesso a outros idiomas. Com isso, vai ter uma visão de quais problemas a educação está enfrentando de modo geral. Fortalecer sua comunidade de práticas significa compartilhar com outros suas experiências, coisas que deram certo, opiniões e orientações. Isso faz com que exista um sentimento de pertencimento bem arraigado.” Foto: Tânia Rêgo/EBC

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