Roda de conversa transforma o clima da comunidade escolar no Mato Grosso

Estudantes e professores se conectam em momento de acolhimento, escuta e sensibilização                                                                                                                                       

As rodas de conversa são ferramentas potentes para reforçar os vínculos dos alunos com a escola. Elas permitem que todos estejam reunidos em círculo, conseguindo se enxergar e perceber a fala, o tom de voz e a linguagem corporal do colega e compartilhar suas próprias experiências sem julgamentos.

Pensando nisso, as professoras Ana Rodrigues e Nayara Ortiz, da Escola Estadual Amélia de Oliveira Silva, em Rondonópolis (MT), começaram a organizar rodas de conversa com os alunos dos 7º e 9º anos e os profissionais da escola.

Em paralelo à formação em Acolhimento e Bem-Estar na Sala de Aula, oferecida pela Vivescer, as professoras participavam do curso “Círculo de Construção de Paz”, promovido pela justiça restaurativa de Mato Grosso, e puderam implementar os conhecimentos na escola. “As temáticas, discussões e implementação da roda de conversa de ambos os cursos se complementavam e faziam parte das atividades práticas“, contou Ana.

Passo a passo:

  1. Organização do círculo

A organização da roda de conversa é cuidadosamente pensada para criar um ambiente propício à partilha e ao entendimento mútuo. O formato do círculo foi idealizado pelo Centro Judiciário de Solução de Conflitos e Cidadania (CEJUSC) do Tribunal de Justiça de Mato Grosso (TJMT). Alguns itens são usados para incrementar a proposta como tapete circular, plantas para representar um ambiente natural, fichas com os valores trabalhados no círculo e um polvo de pelúcia para organizar a fala; o participante deve segurá-lo na sua vez de falar.

Além disso, são preparadas diretrizes prévias, incluindo temática, público-alvo, local, duração, objetivos e metodologia. As professoras organizam cada etapa da roda de conversa, que é dividida em cerimônia de abertura, apresentação, exposição de valores, elaboração de acordos, contação de histórias e cerimônia de encerramento.

  •  Condução da Roda de Conversa

Para começar, o mediador apresenta algumas regras e boas práticas com o objetivo de otimizar o funcionamento da roda. Depois, acontece a cerimônia de abertura, que pode ser uma música, um poema, um vídeo ou uma dinâmica, seguida da apresentação de cada participante.

Os participantes respondem a duas perguntas abertas com relação à temática definida para a roda. A primeira é sempre positiva e a outra é sobre situações indesejadas. Nesse momento cada um usa as fichas com os nomes dos valores para definir seus sentimentos. É importante destacar que a participação é horizontal, não obrigatória. Caso alguém não queira falar, o objeto de fala (polvo de pelúcia) é passado para o próximo.

Na sequência, o grupo constrói combinados que garantem o sigilo das vivências compartilhadas no passo mais importante da atividade: a contação de história. Nessa parte, também são feitas perguntas norteadoras com base no tema escolhido para a roda e o participante responde compartilhando uma história de sua vida, seja ela triste ou feliz. Essas questões norteadoras podem ser, por exemplo, “relate uma situação que vivenciou na escola que se sentiu acolhido” e “relate uma situação que se sentiu sozinho e o motivo pelo qual sentiu assim”.

O mediador sempre começa com objetivo de encorajar os demais. Depois que finalizada essa etapa, cada um, seguindo a mesma ordem de fala, expressa o sentimento que está saindo, finalizando com a cerimônia de encerramento.

Mudanças de dentro para fora

Essa dinâmica provou que as rodas de conversa, quando organizadas com responsabilidade, tem um grande potencial para o clima escolar. Inserir essa prática na rotina dos estudantes trouxe à tona uma profunda conexão e fortaleceu os laços de empatia e respeito.

Apesar do desinteresse inicial por parte dos alunos e profissionais da escola, o ambiente se transformou à medida que as histórias pessoais foram compartilhadas. Houve momentos de emoção e solidariedade que aproximaram ainda mais os participantes.

Segundo relatos dos professores, as turmas que participaram da roda de conversa apresentaram uma melhoria significativa no respeito mútuo, com uma redução visível nas ocorrências de bullying e ofensas. Da mesma forma, os profissionais demonstraram uma maior compreensão e empatia uns pelos outros, sugerindo a continuidade desses encontros. “Eles passaram a se sensibilizar com os problemas que determinado colega estaria enfrentando, algo que passava despercebido diante da correria dos afazeres escolares”, contou Ana.

A primeira transformação é interna, os jovens passam a reconhecer e lidar melhor com suas próprias emoções, para, em seguida, melhorar sua relação em sociedade. A comunidade da EE Amélia de Oliveira Silva continua criando laços e promovendo um ambiente mais acolhedor e respeitoso para todos os envolvidos.

Você já organizou esse tipo de dinâmica com a sua turma? Deixe seu relato nos comentários!

Respostas

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  1. Sim, alguns alunos que tinham dificuldade em relatar certas situações conseguiram se soltar, desabafar e também serem acolhidos. Muito bom.