Estágios são fundamentais para formar professores conectados com as demandas da sala de aula 

Não há dúvidas de que a aproximação entre a teoria e a prática é fundamental para a formação de futuros professores. Mas como garantir que eles tenham experiências práticas e imersivas durante o período universitário? Uma estratégia essencial para isso são os estágios, que podem ajudar os estudantes de pedagogia e das demais licenciaturas a terem seus primeiros contatos com situações reais e fundamentais para o seu desenvolvimento docente. 

Recém-formada em pedagogia pela Universidade Anhembi Morumbi, Giovana Rodrigues Silva é um exemplo disso. Depois da experiência de estágio no Colégio São José, em Santo André (SP), onde teve a oportunidade de fazer a observação direta e participar de forma ativa das atividades com crianças com autismo na educação infantil, ela recebeu da própria escola um curso de especialização em Análise de Comportamento, e deu um novo caminho para a sua profissão. Reflexo também da atenção por parte da mentora que a acompanhou.

A oportunidade da Giovana seria o mundo ideal, mas nem todos os alunos recebem o mesmo acolhimento. Para Marcelo Ganzela, coordenador do curso de Letras do Instituto Singularidades, em São Paulo (SP), a maioria dos professores ainda resiste à presença de estagiários em suas salas de aula, devido ao julgamento que esses alunos podem fazer sobre seu trabalho. “Muitas vezes, o estagiário chega à universidade e critica o trabalho do professor”, conta.

A supervisão prática e a receptividade dos alunos são fatores que se tornam ainda mais difíceis nos cursos de modalidade de ensino à distância (EaD). Segundo resultados de um questionário do ENADE (Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes) de 2017, somente 30% dos graduados em cursos EaD relataram ter concluído o estágio curricular de 300 horas, e nos cursos presenciais, 38%.   

Por isso, a parceria entre instituições de ensino superior e escolas é fundamental para garantir estágios mais eficazes, inseridos em ambientes educacionais adequados e que contem com orientação de professores preparados. 

Exemplo disso tem sido o programa “Escola Formadora”, do Instituto Singularidades, que, por meio de parcerias com escolas municipais de São Paulo, proporciona aos mentores formações e ferramentas para consolidar o vínculo com os universitários e melhorar a formação prática desses futuros professores.    

Desta forma, e com o acesso à lista de escolas parceiras, os alunos não precisam sair à caça de oportunidades, isso porque encontrar um estágio demanda tempo e muita iniciativa. “Além disso, ele precisa enfrentar os critérios exigentes das escolas privadas ou a burocracia e processos lentos das escolas públicas”, conta Marcelo.

Para a recém-formada Giovana, a divulgação de vagas pelas universidades é fundamental, já que as plataformas de estágio nem sempre dispõem de ofertas viáveis. Marcelo aconselha os estudantes a considerarem a localização da escola como um fator determinante para garantir a sua presença nos estágios. 

Os principais desafios dos estágios

Passada esta barreira de encontrar uma vaga, em classe, o estagiário enfrenta o seu maior desafio – tanto na opinião de Giovana, quanto nos relatos que Marcelo recebe dos alunos: a demanda por metodologias educacionais diversificadas. “Na universidade vemos o aluno como protagonista, e na prática não é bem assim”, relata Giovana. Ela diz que vivenciar a rotina da sala de aula é uma oportunidade para desenvolver estratégias de ensino adaptativas, focando na autonomia e necessidade de cada aluno.

Estágios precisam de acompanhamento

O professor mentor é uma referência para o docente em formação, por isso, conforme aponta um material do Instituto Singularidades, a seleção destes profissionais deve considerar a experiência de sala de aula e o seu histórico de boas práticas de ensino.

Marcelo afirma que a “consolidação do diálogo entre professor mentor e estagiário se constrói no dia a dia”, e ressalta que o educador também tem suas expectativas em relação à presença do estagiário. Na outra ponta, ele conta que o aluno deve verbalizar sua vontade de aprender, assim como se disponibilizar para ajudar, por exemplo, com correções ou oferecendo mais atenção em tarefas especiais.

Do lado do professor, para melhorar a experiência do aluno, ele pode propor intervenções mais autônomas, dando mais responsabilidade ao estudante em ações didáticas ou até mesmo na preparação de algumas aulas, sob sua supervisão. O feedback recebido durante os estágios incentiva os futuros professores a serem mais inovadores e confiantes em sua abordagem e formação pedagógica.

O caso de São Carlos

O Movimento Profissão Docente é uma coalizão de organizações do terceiro setor que atua para a melhoria da educação, valorização da carreira docente e fortalecimento da atuação dos professores de todo o país.

Um dos pontos abordados pelo Profissão Docente é o compartilhamento de iniciativas de sucesso que reforcem o impacto positivo do estágio na formação dos licenciandos. Neste sentido, a experiência construída em parceria com a diretoria de ensino de São Carlos reflete o trabalho que é desenvolvido nas escolas estaduais localizadas no município. 

Através de um estudo de caso, o Movimento sistematizou as boas práticas que colocaram São Carlos como referência em estágio supervisionado no estado de São Paulo. Dentre as várias mudanças de paradigmas adotadas pela diretoria, a principal delas é a corresponsabilidade das escolas da rede pública e das universidades na formação do estagiário. Isto garantiu um ecossistema que enxerga o estagiário como futuro professor e proporciona a ele uma vivência com foco nos desafios reais da sala de aula.

Confira no webinário a seguir uma discussão com mais detalhes sobre essa parceria:

 

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