É hora de olhar para trás: os maiores desafios e aprendizados dos professores em 2023

Questões socioemocionais, inclusão digital e leitura de dados foram alguns dos aprendizados de maior destaque do ano para os docentes

Durante os 200 dias do ano letivo, os mais de dois milhões de professores brasileiros da educação básica trabalham com enorme esforço e dedicação para promover o aprendizado dos estudantes em todo o país. Para tanto, utilizam diversas metodologias de ensino, participam de inúmeras reuniões, elaboram e corrigem provas, mediam conflitos entre os alunos e isso é só uma parte de sua rotina de trabalho.

Portanto, para além de entender o que os alunos aprenderam durante o ano, é importante refletir sobre o que a própria classe docente teve de aprendizado significativo e impactante em 2023.

Aprendizado socioemocional

Desde 2020, seguindo as diretrizes da BNCC (Base Nacional Comum Curricular), todas as escolas brasileiras foram obrigadas a incluir em seus currículos as habilidades socioemocionais. Nesse cenário, não é à toa que, em 2023, a procura por soluções voltadas para a educação socioemocional pelas escolas cresceu 316%, segundo pesquisa da Educa.

Para Debora Amaro, pedagoga e orientadora socioemocional da Escola Park, em Lauro de Freitas (BA), lidar com a questão socioemocional está entre os grandes aprendizados docentes do ano. 

“Perceber o aluno em sua integralidade, enxergar a importância de não olhar só para as suas notas, mas sim de entender quem é ele, o que sente, de onde vem, quais são as emoções que tem que aprender a lidar, o que esse comportamento diz sobre ele… Tudo isso é um aprendizado para nós, professores”, declara.

Ainda dentro desse tema, Debora cita o destaque dado à saúde emocional dos próprios professores como um legado relevante do ano que está terminando. “Está claro que é importante cuidar do emocional tanto do aluno como do próprio professor. Em um ano marcado pelos ataques às escolas, resultado de emoções não gerenciadas e conflitos não resolvidos, é preciso mais do que nunca de sensibilidade no olhar.”

Aprendizado digital

Dados revelados pela TIC Educação 2022 mostram que 56% dos professores de escolas de ensino fundamental e médio participaram de formação continuada sobre o uso de tecnologias digitais no ano que antecedeu a pesquisa. A inclusão digital dos docentes é destacada como um dos grandes avanços de 2023, na visão de Janete Borges, professora da Escola Estadual Presidente Castelo Branco, em Belém (PA), e integrante da Rede de Contadores de Histórias do estado.

“Esse ano foi a primeira vez que, em todo o sistema digital da rede estadual de ensino, nós professores tivemos que lançar notas e fazer diário online. Foi um grande desafio aprender a fazer tudo isso”, ressalta Janete. O próximo passo, segundo ela, será a inclusão dos recursos digitais em sala de aula. “A pandemia colocou a juventude mais ligada à tecnologia, de maneira ainda mais funcional. No primeiro momento, a escola não acompanhou isso, e agora o nosso aprendizado tem que avançar nesse tema.”

Como aprendizado docente de 2023, a professora também frisa a utilização de novas metodologias de ensino. “O modo antigo, de focar no livro didático e no professor como único detentor do conhecimento, não tem o mesmo impacto que tinha antes. Esse ano, 

vi colegas propondo coisas novas e diferentes, estimulando os alunos a fazer pesquisa de campo, fazendo mapeamento do entorno da escola, levando as turmas para outros espaços educativos, como parques e universidades. Acho que essa maturidade de ensino está sendo criada.”

Aprendizado de leitura de dados

Olhando para a atividade docente de forma mais ampla, na posição da gestão educacional, o maior aprendizado dos professores em 2023 é entender que o trabalho pedagógico não é mais somente empírico, algo que não se mensura. Essa é a opinião de Anderson Luiz Salafia, coordenador de gestão pedagógica da rede estadual de São Paulo. 

“A avaliação de aprendizagem, por parte dos professores, já vinha acontecendo há alguns anos. Mas em 2023 se tornou algo muito mais enfatizado”, afirma o gestor, citando ferramentas oferecidas pela Seduc (Secretaria de educação estadual)  para realizar a avaliação diagnóstica sobre o currículo, como a Prova Paulista. 

Para ele, está clara a necessidade de se criar essa nova cultura, do professor se apropriando da visão de gestor. “É preciso analisar o que eu fiz, quais foram os resultados das avaliações, o que posso oferecer de diferente, como mudar minha aula. Essa avaliação não pode servir para classificar somente os alunos, mas tem que ser uma autoavaliação da minha prática pedagógica também. Esse é um dos desafios atuais da educação em São Paulo.”

Impacto na evasão escolar

Por fim, o gestor enxerga clara conexão entre um professor que consegue entender a necessidade de seus estudantes e a diminuição da evasão escolar, pois trazer e manter os jovens na escola é um desafio que se intensificou no pós-pandemia. “Infelizmente a escola perdeu a importância para alguns. O professor que cativa e estabelece um vínculo com o aluno consegue bons resultados.” 

Na visão de Anderson, não há segredo: quando o aluno vê que está aprendendo, que a escola está oferecendo algo importante para a sua vida, a presença se eleva e a aprendizagem acontece. “O professor deve entender a sua necessidade, o que ele precisa para aprender, e então conseguimos mantê-lo na escola.”

E aí, professor(a), o que achou da matéria? Deixe seu comentário. 

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