Escuta ativa abre caminho para professores e gestores se aproximarem dos alunos
Uma das maneiras para promover a integração com estudantes neste período de aulas remotas e entender melhor as dificuldades acadêmicas e emocionais que eles enfrentam é realizar processos de escuta. Ao dar a chance para o aluno descrever como está se sentindo ou progredindo, o professor pode ter uma ideia melhor sobre seu desenvolvimento e traçar soluções.
Escutar os estudantes significa criar oportunidade para que possam compartilhar opiniões sobre diferentes assuntos, desde os mais corriqueiros, como brincadeiras durante o tempo livre em casa e as atividades pedidas pelo professor, até os mais complexos, como mudanças no currículo e na organização dos horários.
Para engajar os alunos, essas consultas precisam ser realizadas com o suporte de dinâmicas e linguagens compreensíveis e estimulantes para eles. Também precisam ser inclusivas, para que capturem múltiplas vozes, mesmo as mais silenciosas e dissonantes. Afinal, mesmo para quem consegue realizar aulas síncronas neste momento, nem sempre é possível ver uma mão levantando ou identificar quem timidamente tenta pedir a voz em meio ao mosaico de carinhas na tela.
Marisa Villi, cofundadora e diretora executiva da Rede Conhecimento Social, que já coordenou diversas pesquisas com crianças e jovens, diz que esse processo de escuta ativa pode ser iniciado desde cedo, com crianças de fundamental 1, que podem fotografar sua rotina em casa durante o período de aulas remotas. “É basicamente perguntar como a criança gosta de brincar em casa. É uma pergunta simples e que pode ser muito reveladora”, explica Marisa. “As coisas que ela gosta de brincar quando está dentro de casa servem para nos dizer um conjunto de coisas: ela está sozinha ou acompanhada por adultos, mexendo em um brinquedo pré-fabricado ou com alguma brincadeira mais complexa?”.
A interpretação dessas imagens, feitas em discussões em grupo ou de forma mais individualizada, pode dar ao professor uma visão mais clara sobre a experiência da criança em casa e também facilitar a comunicação com as famílias. “Uma criança que está se sentindo muito sozinha, vai tirar fotos de brinquedos que retratem esses momentos em que ela se fecha, seja por conta do mundo ao seu redor ou porque ela está procurando isso”, disse Marisa.
Com os mais velhos, a partir do fundamental 2, já é possível pensar na adoção de questionários, incluindo perguntas mais diretas sobre como os estudantes estão ou não conseguindo estudar neste momento, os conteúdos que eles consideram mais relevantes e como eles têm acessado.
“O processo de escuta sempre apoia o diálogo entre os diferentes. Por mais simples que seja, um questionário pensado pelo gestor escolar para escuta dos alunos, da equipe pedagógica e das famílias permite fazer uma leitura das expectativas. Cabe ao gestor, mais tarde, pensar no que pode realizar”, diz Marisa, que ressalta que desde a elaboração das perguntas até a análise dos resultados precisa dar chance ao diálogo.
Assim como funcionava nas aulas presenciais, no contexto de aulas remotas é importante considerar que a opinião dos alunos mais “comportados, extrovertidos e eloquentes” não deve se sobrepor à dos mais “rebeldes, tímidos ou que apresentam dificuldade de se expressar”. Todas as perspectivas precisam ser contempladas. Só assim o professor conseguirá ter um quadro geral das necessidades da turma e do impacto das atividades que tem desenvolvido.
Para que o processo seja efetivo, aqueles que escutam devem ainda ter a sabedoria de não se colocar na defensiva, nem se sentir pressionados a acatar tudo o que é sugerido. No entanto, devem realizar devolutivas consistentes, que deem transparência às percepções e propostas coletadas e indiquem como elas serão tratadas. Um processo de escuta dos estudantes e da equipe escolar pode ter efeito reverso quando não gera consequências concretas.
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Com certeza a escuta ativa é primordial na aula remota, pois estamos passando por um momento atipico e nosso olhar com os nossos alunos precisa ir muito além.