A voz dos professores: importância e cuidados especiais

Fonoaudióloga explica que, além dos cuidados e exercícios específicos para voz dos professores, hábitos pessoais e até arquitetura da escola podem interferir na saúde das pregas vocais

Um dos principais instrumentos de trabalho do professor é a sua voz. Apesar da grande importância, muitas vezes ela acaba sendo desgastada ao competir com o volume de conversas dos estudantes em uma escola, sejam crianças ou adolescentes.

Para Madel Valle, fonoaudióloga especialista em voz, além de ser uma ferramenta para os educadores, a voz também é a responsável por parte do que os alunos conseguirão captar e compreender, de acordo com a forma com que o docente modula sua voz.

“O professor pode ter um conteúdo maravilhoso e ser especialista no assunto, mas se não tiver uma voz com uma entonação que atinja seus alunos, pode ser que ele não consiga transmitir a mensagem. Um professor com uma voz monótona faz com que a gente perca o foco atencional. A mesma coisa com aqueles que falam muito baixo, ou com a voz rouca”, explica.

Ensino remoto e voz

Mesmo que quase a totalidade dos anos letivos de 2020 e parte de 2021 tenha sido preenchido com aulas remotas ou envio de materiais à casa dos alunos, não é possível afirmar que a voz do professor teve descanso nesse período, mesmo sem as aulas presenciais.

Madel explica que o ensino online também tem uma série de particularidades que podem exigir muito da voz do professor, como a postura com que se senta à frente do computador e o uso de fones de ouvido. “Se a pessoa estiver com a cabeça abaixada, inclinando o pescoço, pode comprimir as pregas vocais. Além disso, o uso dos fones também pode fazer com que falemos cada vez mais alto sem perceber.”

Desafios impostos no presencial

Engana-se quem pensa que o desafio imposto à voz do professor está relacionado apenas ao uso excessivo. Madel enumera diversos outros fatores que também interferem diretamente na saúde do professor. A própria arquitetura das escolas é um deles, pois muitas salas de aula não têm uma acústica boa, o que contribui para abafar o som. Além disso, alguns ambientes são naturalmente ruidosos, o que pode atrapalhar ainda mais a projeção da voz.

O pó do giz utilizado nas lousas e produtos de limpeza muito fortes também são fatores a serem pensados. A pandemia de Covid-19 impõe mais alguns percalços a serem contornados, como o uso de máscaras e equipamentos como escudos faciais, que abafam ainda mais o som e exigem que o professor se esforce mais para falar mais alto e ser ouvido.

Técnicas e práticas

Existem algumas estratégias que ajudam a evitar a sobrecarga da voz. Algumas não estão relacionadas diretamente à forma como o professor fala, como, por exemplo, o local onde ele se posiciona na sala de aula e sua postura. O mais indicado, segundo Madel, é manter uma postura ereta, com o pescoço relaxado para não comprimir as pregas vocais e tensionar a região, além de se manter em uma posição central da sala.

Os hábitos pessoais também têm interferência direta na saúde da voz. Manter-se hidratado com um consumo adequado de água diariamente é fundamental. O ideal é que a água esteja na temperatura ambiente, pois, quando está gelada, ela tem efeito anestésico. Ou seja: temos a falsa impressão de que resolvemos o problema, e acabamos sentindo o dano aumentado depois.

Também é importante evitar fumar e ingerir excessivamente álcool e café. Isso porque, em grandes quantidades, o café pode ser prejudicial a pessoas que usam a voz profissionalmente. Segundo a especialista, o indicado é não ultrapassar duas xícaras pequenas por dia e evitar que a hora do cafezinho seja antes da aula.

Quando o assunto é a forma de falar e usar a voz, Madel enumera alguns pontos a serem observados, como uma boa articulação das palavras e aquecimento vocal, que inclui exercícios de alongamento do pescoço e vocais, como a vibração dos lábios e língua, pronúncia de fonemas e uso de acessórios para potencializar o uso da voz.

Madel reforça, entretanto, que é importante que os exercícios para voz sejam sugeridos por um profissional da fonoaudiologia, para que as práticas sejam pensadas de acordo com a necessidade de cada um. Por isso, a especialista defende que a presença de um profissional da voz deveria ser recorrente em cada escola, a fim de ministrar oficinas com orientações específicas e corretas para os educadores. “É muito importante o professor conhecer a fisiologia da voz, porque é quando conhece que vai conseguir se cuidar melhor.”

O repouso da voz entre aulas também é uma estratégia indicada. Em casos extremos de gripe, resfriado ou quando o professor perde a voz por esforço, o caminho é único: repouso e procurar um especialista, como um otorrinolaringologista, que poderá fornecer acompanhamento médico.

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