Questões indígenas são urgentes e devem ser trabalhadas na escola

3 crianças indígenas ao redor de uma árvore

Seguir perfis de lideranças nas redes sociais, usar livros didáticos e até mesmo promover reuniões virtuais com representantes indígenas são caminhos para abordar o tema em sala de aula 

Diversas placas da Avenida Brasil, situada na zona Sul da cidade de São Paulo, trazem a frase “Brasil Terra Indígena”. A mensagem, apesar de simples, é carregada de significados. Um deles é o fato de que os chamados povos originários têm mais propriedade e conhecimento da terra do que os portugueses, que aqui chegaram em 1500, data que ficou conhecida como “descobrimento” do Brasil. 

A questão indígena é repleta de debates. Invasão e exploração de terras, garimpo, desmatamento e genocídio, por exemplo, não são temas profundamente abordados nos livros de história. Mas são assuntos que têm recebido cada vez mais destaque e atenção devido ao posicionamento das lideranças indígenas contra recentes ataques aos direitos dos povos originários. 

Para entender porque o tema deve ser trabalhado nas escolas e como isso pode ser feito, a Vivescer aproveitou o 9 de agosto, que marca o Dia Internacional dos Povos Indígenas, para conversar com Tiago Nhandewa, professor, escritor e antropólogo da etnia Guarani Nhandewa. Confira o bate-papo a seguir.

Vivescer: Considerando o contexto brasileiro, país marcado profundamente pela cultura indígena, qual é a importância de trabalhar o tema na escola? 

Tiago: As datas que remetem aos povos indígenas, como o dia 9 de agosto, são uma oportunidade de reflexão para alunos e professores a respeito da temática indígena. É fundamental trabalhar o assunto nas escolas de forma contextualizada de acordo com as realidades indígenas atuais. É um momento de falar das lutas dos povos indígenas pelos seus direitos e pelos seus territórios tradicionais.

Vivescer: Como abordar o assunto em sala de aula de uma forma inovadora e que vá além dos livros didáticos? 

Tiago: Além dos livros didáticos, os professores e alunos podem navegar na internet acessando informações atuais por meio das páginas e perfis das instituições e dos próprios indígenas. Se possível, conhecer uma comunidade indígena em algum momento e convidar uma liderança (um professor, escritor ou político indígena) para um diálogo via plataforma virtual também é uma maneira de abordar a temática.

Vivescer: Inúmeros estudos e pesquisas mostram que a degradação ambiental em terras ocupadas por povos indígenas é mínima, ao mesmo tempo que outras áreas sofrem com múltiplas explorações. Com isso, é possível abordar o tema de forma interdisciplinar? Ou seja, trabalhar a questão indígena conectada a outras pautas, assuntos e conteúdos? 

Tiago: A questão ambiental é algo atual, e os povos indígenas são os principais defensores dos recursos naturais, como a água, a terra e as florestas. Estes assuntos perpassam por diversas pautas e podem se conectar com outros assuntos, como a política, a educação, a saúde, as artes e a literatura indígena.

Vivescer: Quais estratégias você indicaria para debater a contribuição dos povos indígenas? 

Tiago: As contribuições dos povos indígenas são muitas. Podemos ver no nosso dia a dia. As culturas indígenas influenciaram vários segmentos e aspectos da sociedade brasileira, como nos alimentos, topônimos, religião, medicina, língua, história, enfim, são várias as influências. Hoje em dia essa contribuição é ainda maior, pois os povos indígenas estão na linha de frente pela preservação e defesa do meio ambiente. Questões que tratam desses temas precisam ser levantadas com os alunos. 

Vivescer: A questão indígena está na mídia, com inúmeros projetos de lei tramitando no Brasil. É interessante debater esses assuntos com crianças e jovens no sentido de reconhecer a importância da preservação dos povos e de suas histórias e culturas?

Tiago: É vital tratar desses assuntos em sala de aula com os alunos. Os projetos de leis trazem questões que ajudarão a desmistificar e desconstruir estereótipos acerca dos povos indígenas. Lembrando que sempre deve ser consultada uma fonte ou mídia que tenha integridade com a informação, e que não seja uma disseminadora de informações equivocadas. Se possível, procure uma mídia indígena. Hoje há várias, como a “Mídia Nativa On”, que conta com página no Facebook e Instagram.

Fique por dentro 

O mês de abril é considerado o ‘abril indígena’ em razão do dia 19, data que celebra o Dia do Índio. Na ocasião, a Vivescer contou com o apoio de Juliana Pádua, consultora pedagógica e membro do grupo de pesquisa “Produções literárias e culturais para crianças e jovens”, da Universidade de São Paulo (USP), para reunir indicações de obras infantis escritas por autores indígenas que podem ser trabalhadas de forma intencional durante o ano inteiro, e não apenas em datas comemorativas. 

Um exemplo é o premiado livro A Boca da Noite, que conta a história de Kupai, menino do povo Wapichana. Junto com seu irmão Dum, ele sobe a Laje do Trovão, o lugar mais perigoso da aldeia onde mora, para descobrir a resposta de algumas perguntas, como: o que acontece com o sol depois que mergulha no rio? Ele passa a noite lá dentro? Às indagações soma-se a história da boca de noite, que seu pai conta antes de dormir. 

Confira a lista de obras na íntegra. 

O GIFE – Grupo de Institutos, Fundações e Empresas também aproveitou o mês de abril para produzir um conteúdo especial sobre a questão indígena. Além de trazer entrevistas com lideranças indígenas e informações sobre as inúmeras violações contra esses povos, o conteúdo indica perfis de representantes indígenas nas redes sociais, que podem inspirar abordagens sobre o tema em sala de aula. Acesse.

Respostas

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  1. Uma abordagem precisa e urgente! Precisamos olhar a escola como um lugar de culturas e pensar em currículos interculturais.

  2. Como Profª de Educação Física, abordava a temática por meio de um projeto de “Brinquedos e Brincadeiras Indígenas” junto às crianças dos ensino fundamental I (anos iniciais). No desenvolvimento deste projeto conhecíamos mais sobre a cultura geral dos povos originários por meio de livros e filmes para, então, partirmos ao desenvolvimento do projeto nas aulas. Um projeto que sempre dá certo, sempre foi muito divertido, além de desenvolvermos as práticas da cultura corporal nas aulas. 🙂