Estratégias para mediar conflitos na escola

A mediação vem tornando-se uma ferramenta vital para a gestão pacífica de conflitos, tendo repercussão direta no clima escolar

Uma expressão popular afirma que “quando um não quer, dois não brigam”. Apesar de ter vários significados, dependendo do contexto em que é utilizada, a frase é um retrato das inúmeras possibilidades de mediação para que um conflito não termine em violência. O conceito de mediação de conflitos não nasceu na escola, mas vem sendo absorvido pelo universo da educação como uma boa forma para resolução de problemas de convívio entre a comunidade escolar, buscando assim estabelecer uma cultura de paz.

Para começo de conversa, é importante enxergar o conflito como algo natural e até mesmo inerente à vida em sociedade. Como bem explica Holdamir Gomes, especialista em Direitos Humanos que atua como mediador, conciliador e facilitador de círculos de diálogos no Pará, “onde existem relações humanas, com maior ou menor incidência, a chama do conflito estará acesa”. E continua: “Mas o conflito pode ser potencialmente positivo ao provocar reflexões, propiciar condições de crescimento e amadurecimento, além da possibilidade de buscar novas respostas e ajustes para problemas existentes.”

Ou seja: o problema não está no conflito em si, mas sim no tratamento dado a ele. Em um cenário marcado pela fragilidade dos relacionamentos humanos, realidade que no espaço escolar se revela de modo violento e agressivo, a mediação vem tornando-se uma ferramenta vital para a gestão pacífica de conflitos. 

Para o especialista, é necessário enxergar esse instrumento com um olhar ainda mais amplo, “que não busque apenas o acordo ou entendimento entre as partes, mas retome o estímulo da comunicação, da cultura do encontro entre pessoas, da construção de vínculos menos superficiais e mais reais entre os sujeitos envolvidos”, afirma. “Logo, entendo a mediação de conflitos como um subsídio pedagógico que muito pode ajudar, no chão da escola, para a melhoria das relações humanas e do clima escolar com repercussão na própria comunidade escolar e fora dela.”

Tomada de consciência dos sujeitos

Ao proporcionar a criação de um ambiente seguro e construtivo, a mediação de conflitos escolar também apoia os alunos no desenvolvimento de competências socioemocionais e pedagógicas, ampliando a solidariedade e a consciência de grupo de toda a comunidade escolar.

“Como dizia Jean Piaget, a forma por excelência para se conduzir um projeto de educação é a cooperação”, relembra Luciene Tognetta, professora do programa de Pós Graduação em Educação Escolar da Unesp e líder do GEPEM (Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Moral). “Essa cooperação acontece não no seu sentido simplista, de dicionário, mas no seu sentido psicológico: de operar com, de estabelecer trocas equilibradas entre pessoas, de promover diálogos, de ter a possibilidade de que os pares realizem o confronto de ideias, de discutir quais são os problemas que a gente tem, de chegar a soluções que deixem ambos bem.”

Contudo, para além de seus projetos político-pedagógicos, a escola precisa estar preparada para colocar seus espaços de discussão em prática. “É um longo processo que a escola precisa fazer para discutir seus próprios problemas – e onde estão a solução para eles. Isso só se dá quando temos um espaço temporal, de procrastinação, de escuta, de reunião”, aponta Luciene. 

Para ela, em qualquer conflito que aconteça no ambiente escolar, o mediador terá que utilizar ferramentas que deem conta de garantir um princípio: a tomada de consciência por aqueles que estão envolvidos, dando a eles a condição de terem seus sentimentos reconhecidos. “A tomada de consciência pede exatamente isso, que os envolvidos possam dizer com palavras o que sentem e como podem resolver aquilo de outra forma”, afirma. 

Nesse cenário, o mediador deve ajudar o estudante a refletir e exercer o autocontrole, fazendo perguntas que o façam pensar como poderia ter agido de outro jeito – e jamais dizer a ele o que deve ser feito. Ainda, é um momento propício para a instituição de uma comunicação não-violenta, uma prática de linguagem que não acusa e que tem como objetivo gerar mais compreensão e colaboração nas relações pessoais.

“É preciso representar em formas mais equilibradas e evoluídas aquilo que, se não sair como palavra, vai sair como agressão, tanto a si quanto ao outro. Criar esses recursos é extremamente necessário para que o sujeito desenvolva uma personalidade mais equilibrada em termos emocionais.”

Mediação de conflitos no currículo da escola e da formação docente

Para além da preparação do espaço escolar, outro investimento fundamental para o fortalecimento das estratégias de mediação de conflitos nas escolas é na formação docente. “É necessário colocar a mediação de conflitos no currículo escolar da formação de professores e até mesmo na grade curricular das escolas. Essa mudança no espaço escolar pode refletir também positivamente na própria família dos alunos, ao encontrarem na escola um espaço mais seguro, dialógico, comprometido com a vida e sua humanidade”, acredita Holdamir.

Em sua visão, a formação de professores estacionou em um modelo curricular baseado em uma escola que não existe mais. “É importante trazer ao debate acadêmico, quando da formação, a temática do conflito, da violência e suas formas alternativas de tratamento e enfrentamento, que podem ajudar na prática pedagógica. Lidando dessa forma com uma concepção mais avançada na formação dos futuros professores.”

Luciene está de acordo. “Um professor que passou os quatro anos de faculdade recortando e colando, sem discussão, fazendo apenas provas e aulas por vídeo, não tem condições de proporcionar o diálogo e a troca efetiva de contraposições entre os pares.”

Estratégias para a mediação de conflitos escolar

  • Estabeleça espaços (tanto físicos quanto temporais) de escuta e troca entre pares;
  • Favoreça o diálogo utilizando uma comunicação não violenta;
  • Privilegie a formação de professores como mediadores;
  • Transforme a cultura educacional: de impositiva e vertical para propositiva e horizontal, centrada na comunicação entre os sujeitos e que valorize o entendimento frente às diferenças. 

Respostas

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  1. A inclusão no currículo de formação docente de estratégias de mediação dos conflitos nas escolas será de grande importância. Como mediador o professor precisa aprender a ter equilíbrio nas emoções e através de palavras reverter situações q caminham para agressões em ambiente escolar.

  2. Planejar momentos para trabalhar o desenvolvimento socioemocional dos estudantes, com ênfase em competências chaves, como autoconhecimento, empatia, cooperação, comunicação, resiliência e autogestão autocuidado. Sugestão iniciar com roda de conversa.

  3. A proposta de uma formação de professores e um currículo que abra já está necessidade tão visível , será uma mudança extraordinária, sabendo que a demanda é gigantesca .

  4. De fato, considerar e aprimorar as questões de Inteligência Emocional e Competências Sócioemocionais equilibra e direciona com muito mais flexibilidade o desenvolvimento dos Objetivos de Aprendizagem em Sala de Aula.

  5. O conflito no âmbito da Escola precisa ser climatizado de modo jurídico e psicológico, sem a partição pedagógico ou licenciosa do Profissional Professor, devido a seu tempo hora aula em sala na Escola, Professor é para vender conteúdo com exposição e exemplificação para conhecimento estudantil de modo problematizador e etimológico das “Ciências e sua Tecnologias e a Filosofia”.

  6. Faz-se muito necessário trabalhar constantemente na escola o diálogo, a empatia, o respeito e a tolerância para assim evitar tomadas de atitudes perigosas e desnecessárias diante dos conflitos que surgem no cotidiano escolar/família/sociedade.