No mês do Dia dos Professores, saiba como os próprios educadores enxergam a valorização de seu trabalho

No 15 de outubro, mais de 2,5 milhões de brasileiros têm um dia para chamar de seu: o Dia dos Professores. Afinal, o país possui cerca de 2,2 milhões de docentes na educação básica e mais de 300 mil no ensino superior, de acordo com o Censo Escolar 2021 e do Censo da Educação Superior 2020.

Esse vasto universo de educadores é responsável por formar todos os outros profissionais, de todas as outras carreiras. Contudo, existem diversos obstáculos que dificultam o exercício digno da profissão no país. Para citar alguns, estão os baixos salários, as longas jornadas, a sobrecarga de trabalho, a defasagem na formação inicial, a violência nas salas de aulas e a desvalorização do cargo pelos governos e pela sociedade.

Não à toa, dados indicam o desinteresse pela carreira docente no Brasil. Uma pesquisa do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) mostrou que apenas 5% dos jovens brasileiros que estão no ensino médio têm interesse em ser professor. Ainda, um estudo do Instituto Semesp aponta que, até 2040, a educação básica do país pode enfrentar um déficit de 235 mil professores.

Para refletir sobre os principais desafios da carreira e as oportunidades de valorização necessárias para a profissão docente, conversamos com professores de diferentes estados brasileiros. São eles: Carla Borges, das redes municipais de Sarzedo e São Joaquim de Bicas (MG); Cleide Magesk e Doug Alvoroçado, da rede estadual do Rio de Janeiro; Mary Sônia de Alencar, da rede estadual do Amazonas e Rosane Almeida, da rede particular de Barreiras (BA).

Os educadores recomendam cinco ações para valorizar o trabalho docente. O resultado você confere a seguir:

Valorização financeira e políticas públicas em prol da carreira docente

“A sociedade, de maneira geral, precisa reconhecer que o professor é o profissional que forma todas as profissões, que exerce um papel imprescindível para a formação de uma geração consciente e atuante. Isso perpassa por políticas públicas de valorização ao docente, pelas condições dignas salariais e por oportunidade de formação continuada.” Rosane Almeida

“A educação, que antes era vista como direito imutável e fundamental do ser humano e dever do Estado para com seu povo, transformou-se em um serviço que pode simplesmente ser terceirizado e regulado pelo mercado. Logo, isso tem afetado a todos nós, professores em pleno exercício de sua profissão.”
Mary Sônia de Alencar

“Eu me sinto desvalorizado quando não sou reconhecido financeiramente, quando alguém faz um trabalho super inovador e, no fim do dia, vai ganhar igual aquele colega que falta, que não faz o trabalho dele, ou que só faz por fazer. Sinto falta do poder público recompensando nosso trabalho, investindo e nos ajudando a trabalhar. Tenho muitas ideias pra tirar do papel e não consigo.”
Doug Alvoroçado

Apoio da gestão escolar e da rede educacional

“As escolas têm o costume de estimular o trabalho em equipe, principalmente para que os alunos estejam preparados para o mundo, onde terão que trabalhar com outras pessoas. Mas, infelizmente, as próprias instituições não colocam o trabalho colaborativo em prática, apesar de incentivar isso nos estudantes. O que acontece em algumas escolas é que os professores nem sempre conseguem trabalhar de maneira colaborativa entre si, seja por falta de projetos que incentivem isso ou por ausência de organização escolar.”
Carla Borges

“Já desenvolvi vários trabalhos incríveis com os alunos, todavia acabaram dentro da escola. A rede nunca deu visibilidade para as atividades que desenvolvo. Analiso a distância geográfica como a explicação para que os projetos desenvolvidos por mim e por outros colegas não tenham destaque nas mídias da rede. Mesmo sendo voltadas para o desenvolvimento dos alunos, considero ruim a falta de apoio em uma escala maior, pois poderia motivar outros professores a promoverem ações e práticas diferenciadas.”
Cleide Magesk

“A melhor forma da gestão valorizar o professor é proporcionar formação continuada, condições de trabalho e remuneração adequadas. O professor também precisa ter sua liberdade de cátedra respeitada.”
Rosane Almeida

“Sinto falta da direção ir na minha sala e ver a aula. Quando preparo uma aula legal, eu os convido e não vai ninguém, falam pra eu tirar fotos que depois eles vêem. Não é isso.”
Doug Alvoroçado

“Além da tradicional sala de aula, nós, professores, queremos utilizar outros espaços que ofereçam novas oportunidades de aprendizagem, incluindo visitas a museus, teatros, parques e outros espaços públicos. No entanto, sei que é necessário que haja uma verba disponível para investir em transporte e em outros recursos necessários, além de incentivos e estrutura adequada para implementar essas atividades.”
Mary Sônia de Alencar

Combate à banalização da profissão e à solidão pedagógica

“Dentro da escola, muitas vezes vivemos uma solidão pedagógica, como me refiro em relação ao apoio do profissional que acompanha a parte pedagógica. Muitas vezes eles entendem que seu papel é estar atrás de uma mesa, pois a parte burocrática consome bastante. Raramente adentram a sala para conhecer a realidade. Essa solidão se faz presente na escuta do professor, na discussão das intervenções individuais, em conhecer os alunos, se inteirar, tornar vivo aquele local.”
Carla Borges

“Alguns alunos me perguntam: ‘Além de dar aula, você trabalha?’. O meu trabalho é ser professor. A figura do professor foi desvalorizada por vários motivos, inclusive pela teoria de que todo mundo pode ser professor, que é uma carreira muito fácil; pela sugestão de que todo professor é doutrinador. Isso é insignificante diante da quantidade de professores que dão aula, fazem planejamento, e dão seu melhor. E ainda aparece aquela ideia de que ser professor é um sacerdócio, é a sua missão na vida. Não é. Eu dou aula por dinheiro e é meu trabalho, não faço caridade.”
Doug Alvoroçado

Apoio dos estudantes, da família e da comunidade

“Os momentos em que me sinto valorizada estão intimamente ligados com a devolutiva de meus alunos. No momento em que se esforçam para realizar as atividades que proponho, ou quando ex-alunos fazem questão de retornar à escola para participar dos meus projetos. Nesses momentos me sinto feliz e realizada em minha profissão.”
Cleide Magesk

“Em relação aos estudantes, estes precisam reconhecer nos professores a autoridade, não o autoritarismo, mas aquele que os orienta, que proporciona a construção do conhecimento. O professor precisa ser respeitado como profissional que estudou e estuda para ser o mediador entre o estudante e o saber.”
Rosane Almeida

“Não basta só a escola ceder mais espaço para que os pais participem; é preciso que haja interesse por parte deles em participar da vida escolar de seus filhos. Que juntos, aprenderemos a discernir quais são as amarras que, de fato, impedem ou atrapalham o acontecimento de uma educação de qualidade para todas as pessoas.”
Mary Sônia de Alencar

“Para que tenhamos apoio de uma sociedade, é preciso levar informação à comunidade, para que a população compreenda a importância do docente e consequentemente deem o apoio necessário. Os pais e responsáveis devem ter um contato mais próximo com os professores, não somente em reuniões e datas comemorativas, mas em outros momentos que possam participar ativamente contribuído com a escola no processo de aprendizagem dos estudantes.”
Carla Borges

Reconhecimento público

“É dever da sociedade cobrar do poder público melhorias, garantias de direitos e condições dignas para os docentes exercerem o magistério. Da mesma forma, a população precisa se conscientizar sobre a extrema importância do professor e incentivá-lo, respeitá-lo, enaltecer seu trabalho, pois uma nação que não valoriza este profissional não se desenvolve.”
Carla Borges

“Há urgência em recolocar o profissional de educação em uma posição de destaque. Para que o olhar para nós, professores, volte a ser de importância na vida dos alunos. Todos os dias, reflito sobre como o grupo de alunos e pais está mudando com o passar dos anos. Vejo aumento na falta de interesse pela escola, no estar na escola. Essa falta de interesse esgota o professor, que precisa sempre se reinventar para se tornar atraente aos olhos dos alunos.”
Cleide Magesk

“Me sinto valorizado toda vez que o meu trabalho é reconhecido pelos alunos e pela escola, quando meu trabalho concorre a prêmios ou quando você tem a oportunidade de expor esse trabalho em mostras ou palestras fora da escola.”
Doug Alvoroçado

Saiba mais!

A valorização dos professores é prioridade na agenda do Instituto Península. Pensando nisso, foi lançada a primeira edição do Indicador de Valorização de Professores (IVP), uma ferramenta inédita no Brasil para medir como a sociedade e os próprios professores da Educação Básica valorizam a profissão. O indicador, construído em parceria com a pesquisadora e cofundadora da Rede Conhecimento Social, Ana Lima, revela que apenas 26% dos brasileiros acreditam que os professores são bem valorizados no país, enquanto somente 20% dos docentes têm essa percepção. Clique AQUI para acessar o material completo!