Educadora reforça importância de focar em aprendizados de 2020 para fechar o ano de maneira otimista
Para Ana Flávia Castanho, apesar de desafiadora, educação à distância proporcionou aprendizado para vários grupos. O final do ano é momento de descansar, pensar em avanços realizados e recarregar energias para 2021
Há quem diga que um piscar de olhos foi suficiente para o ano todo passar. Outros, afirmam que os meses estacionaram. De qualquer forma, dezembro está aqui, mês que marca encerramentos de ciclos e reflexões sobre o que ficou para trás. É possível não deixar que os desafios, dificuldades e a tristeza ocasionada pela pandemia de Covid-19 marquem as mensagens, reuniões – online ou presenciais – e planejamentos para 2021?
Segundo Ana Flávia Castanho, professora, autora de materiais didáticos e assessora pedagógica da Vivescer, é preciso se manter otimista, sobretudo na área da educação, uma vez que educar significa confiar em um futuro possível melhor do que se vive atualmente. Não se trata, entretanto, de uma esperança ingênua, mas sim de um otimismo comprometido, ou seja, observar o que passou, o que foi bom e planejar melhorias para o futuro.
“Como educadora, vejo que esse ano nos permitiu direcionar o olhar para o que é profundamente humano da educação e em cada um de nós, reforçando laços, o compartilhar de ideias, o apoio mútuo e a construção coletiva”, explica. Para Ana, o desenvolvimento e trabalho com o lado pessoal foi um dos pontos altos desse momento desafiador, e ter esse foco como mensagem de final de ano pode ajudar a transmitir novas esperanças para 2021.
Professores, escolas e secretarias buscando soluções para fazer atividades chegarem aos estudantes, o reforço do elo entre as pessoas, a redescoberta do propósito da figura do professor, a reflexão sobre o valor do conhecimento, a valorização de diferentes repertórios e soluções culturais e do trabalho cooperativo, a argumentação por soluções, o aumento do autocuidado e o desenvolvimento da empatia são apenas alguns dos aprendizados que Ana Flávia aponta que o período de aulas remotas trouxe.
Ela cita um trecho do livro “A Vida não é Útil”, do líder indígena Ailton Krenak, para reforçar que a sociedade está sendo provocada a se renovar e repensar o rumo de diversas áreas, inclusive da educação. “Vamos ter que produzir outros corpos, outros afetos, sonhar outros sonhos para sermos acolhidos por esse mundo e nele podermos habitar. Se encaramos as coisas dessas forma, isso que estamos vivendo hoje não será apenas uma crise, mas uma esperança fantástica, promissora”, diz o trecho.
Educação enquanto processo
Com escolas fechadas subitamente, com pouco tempo para se organizar para uma realidade imprevista e nunca antes vivenciada, muitas pessoas adotaram a expressão “ano letivo perdido” para se referir a 2020. Ana Flávia diz não concordar e sugere uma forma de encarar o cenário.
“Precisamos entender a educação como um grande percurso, não como anos isolados. Se pensarmos como um grande processo de desenvolvimento humano, afetivo, cognitivo, de consciência corporal, 2020 foi um ano de aprendizados, não perdido. O que precisamos é encontrar maneiras para estar mais próximos em 2021, porque talvez continuemos com um sistema híbrido, um pouco presencial e um pouco à distância.”
Dito isso, a educadora reflete sobre a importância e a potência de investir em avaliações diagnósticas, para entender os verdadeiros avanços e as lacunas a serem recuperadas e preenchidas. “Devemos observar quais conhecimentos fundamentais não foram construídos. Em cada disciplina, existem conhecimentos centrais que ajudar a conseguir outros, e se conseguirmos ajudar as crianças a aprender o que é fundamental de cada conteúdo, vamos fortalecer o percurso de aprendizado.”
Descansar para continuar
Ao longo da pandemia, desde conversas de WhatsApp, até mesmo lives e reuniões pedagógicas discutiram a questão da recuperação de conteúdo. Muitos especialistas chamaram a atenção, entretanto, para o fato de que o momento não deve ser usado para pensar em seguir um currículo que determina o que estudantes devem aprender, considerando as condições adversas que a educação enfrentou durante o ano.
O mesmo se aplica ao momento de férias em dezembro e janeiro de 2021. Para Ana Flávia, agora é momento de descansar e recarregar energias para os próximos períodos, que deverão considerar o que avançou durante esses meses e endereçar aquilo que não foi trabalhado conforme o planejado. “2020 foi um ano que exigiu muita criação e resolução de problemas de todo mundo. Acredito que, diante desse momento de fechamento, tanto professores como alunos precisam de descanso, de renovação, de um tempo para se preparar para um novo ano”, explica.
A mensagem também vale para famílias. A troca da sala de aula por aulas a distância em casa fez com que muitas famílias passassem a se aproximar da educação dos filhos, o que também trouxe novos aprendizados, experiências e desafios. Para Ana, é natural que adultos que ajudam crianças e jovens em suas tarefas priorizem a resposta. Entretanto, o percurso até os resultados é igualmente ou até mais importante.
“É necessário ter tranquilidade emocional para ajudar os filhos e incentivar que cultivem as perguntas. Vivemos em uma sociedade do imediato, mas é ao sustentar uma pergunta que o aprendizado acontece, pois vamos encontrando meios de responder. Esse ano ajudou nessa parceria tão importante entre família e escola. Então, nesse sentido, é papel das famílias incentivar e mostrar que as crianças são capazes, que obstáculos podem ser superados e que tudo bem dormir com uma dúvida, pois, no dia seguinte, é possível ter boas ideias para resolvê-la. Todos estão precisando de uma pausa para se preparar para o próximo ano; as famílias também.”
Uma proposta para encerrar o ano
Focar no lado negativo e em todas as dificuldades que a pandemia trouxe para a educação é uma receita a ser deixada de lado. Para a educadora, o segredo está em enxergar as possibilidades que se abriram e nutrir-se com força a partir delas, para pensar o que pode ser feito de forma diferente no próximo ano.
Uma ideia de reflexão a ser feita com crianças e jovens é propor que escrevam as cinco coisas que aprenderam melhor em 2020 e as cinco coisas que mais sentiram falta e gostariam que fossem diferentes no novo ano letivo. Em seguida, os professores podem contabilizar as ideias e achados dos estudantes e construir mensagens coletivas e personalizadas.
“No meu lugar de professora, diria o quanto eles aprenderam, como eles são capazes, como conseguiram, juntos, construir um novo jeito de estar na escola e como tenho plena confiança em cada um deles. Também é possível dizer sobre coisas que cada um aprendeu, para mandar mensagens sobre o quanto eles se superaram e como coisas bonitas aconteceram. Além disso, faria o exercício de relacionar tudo o que eles sentem falta e pensar no que é possível fazer para endereçar as questões no próximo ano”, completa.
Foto: jcomp/Freepik
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