Prática de esportes e atividades corporais libera hormônios, promove bem-estar e ajuda na concentração dos estudantes 

Quem nunca presenciou um colega tentando escapar da aula de Educação Física? Essa relutância diante da aula prática está longe de ser incomum e se reflete nos números registrados em diversas pesquisas. Segundo o estudo Tendências Globais sobre a Insuficiência da Prática de Atividades Físicas entre Adolescentes, publicado pela revista científica The Lancet, 81% de meninos e meninas entre 11 e 17 anos, de 146 países, não cumprem as recomendações mínimas de atividades físicas diárias. 

Ao contrário do que alguns podem pensar, os benefícios do exercício físico vão além da esfera da saúde. “Além do combate ao sedentarismo e da melhoria da qualidade de vida, estudos recentes apontam a relação positiva entre a atividade física, desenvolvimento de habilidades motoras fundamentais e também de competências socioemocionais, principalmente quando esse trabalho se dá ainda em idade precoce”, explica Verônica Fonseca, coordenadora pedagógica do Impulsiona, programa de educação esportiva do Instituto Península que utiliza o esporte como ferramenta de desenvolvimento integral dos alunos.

Ou seja, em linhas gerais, quanto antes foram iniciadas intervenções orientadas para a prática de exercícios físicos, melhores indicadores de saúde poderão ser obtidos ao longo da vida. Além disso, se estimuladas desde pequenas na primeira infância, são maiores as chances das crianças se tornarem adultos fisicamente ativos. 

Benefícios para o aprendizado

Introduzir a prática de exercícios físicos na grade horária é uma estratégia com múltiplos efeitos. Além de desanuviar a mente e promover uma pausa dos conteúdos, ocorre a produção e liberação de hormônios pelo corpo humano, como testosterona, adrenalina, cortisol e endorfinas. 

“Esses hormônios são capazes de proporcionar diversas mudanças, como a sensação de relaxamento e bem-estar que podem durar horas, a depender da intensidade da atividade praticada. Mas não se trata apenas de bem-estar: a prática de exercícios também desenvolve células cerebrais, criando novas conexões interneurais, o que mantém a mente sempre jovem e ativa”, reforça Verônica. 

Isso significa que, além dos benefícios para o corpo e para a saúde física, as atividades de movimentação corporal também contribuem para a concentração nos estudos, pois o estudante pode transferir para outras atividades cotidianas as posturas, a atenção, a tomada de decisão, a velocidade e o ritmo exigidos durante a prática de um esporte. “A atividade física ajuda a ‘preparar’ o cérebro, contribuindo para o aprendizado de outras disciplinas.”

Tais vantagens já foram comprovadas cientificamente. O estudo Escola, Movimento e Esporte: Cenário de Desenvolvimento Humano Integral, realizado pelo Impulsiona em parceria com a Plano CDE, observou uma correlação positiva entre a diversidade de modalidades praticadas na Educação Física e o desempenho das escolaa no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB). Esses dados mostram os efeitos positivos da movimentação corporal no bom rendimento dos alunos em outras disciplinas. 

A importância da prática na escola

Para muitas crianças e adolescentes, o ambiente escolar é o único local onde praticam exercícios com segurança, intensidade e orientação. Principalmente em grandes cidades, como São Paulo, famílias costumam se sentir inseguras em deixar os filhos desacompanhados na rua para brincar ou praticar alguma atividade, ao mesmo tempo em que as áreas e espaços verdes seguros estão cada vez mais escassos. 

Na escola também há a orientação adequada, realizada por profissionais formados, capacitadas e especializados, que planejam as atividades de forma estruturada e com objetivos claros, o que, segundo Verônica, aumenta ainda mais a probabilidade dos estudantes incorporarem essas práticas às suas rotinas, terem um bom rendimento escolar e desenvolverem competências socioemocionais fundamentais para a vida em sociedade.

Conscientização

Somente os benefícios garantidos para a saúde com a prática de atividades físicas deveriam ser suficientes para elevar a aula de Educação Física a um patamar diferente do que ocupa atualmente. Entretanto, ainda há um caminho a ser percorrido quando o assunto é conscientização sobre a importância da prática esportiva na escola. 

Verônica explica que, em primeiro lugar, a Educação Física precisa ser considerada em toda sua importância e complexidade dentro do ambiente escolar. A ideia não é simplificar ou limitar as propostas, tornando-as recreação, mas sim potencializar o aprendizado. 

“Existem saídas simples para valorizar o esporte na escola. Uma delas é organizar Olimpíadas de Educação Física, como acontece com Matemática e Língua Portuguesa, para mostrar o quanto o esporte contribui no desenvolvimento dos jovens”, exemplifica. 

Outra ideia é promover uma variação dos esportes vivenciados pelos estudantes. “Quanto mais modalidades forem oferecidas, mais inclusiva e dinâmica será a aula, contribuindo para a promoção de valores positivos. Quando só ensinamos futebol, por exemplo, a Educação Física perde valor, e muitos alunos acabam se afastando da aula.” 

Tudo isso deve ser feito com o apoio fundamental da direção da escola, que deve valorizar a disciplina, proporcionar recursos adequados e incentivar e apoiar os educadores. 

Saiba mais

O Impulsiona criou um cartaz – que pode ser exposto em diferentes locais da escola – sobre a importância de valorizar a Educação Física. Entre as 20 razões apresentadas, estão: reduz a ansiedade e o estresse, melhora o sono, potencializa a confiança e autoestima e ensina lições de vida aos estudantes. 

Confira aqui.