Bom relacionamento entre família e escola depende de escuta ativa, sinceridade e colaboração

Às vésperas do Dia Internacional da Família, celebrado em 15 de maio, a Vivescer conversou com a psicopedagoga Renata Gomes sobre os impactos positivos da relação família-escola no desenvolvimento dos alunos

Na primeira tem uma mãe solo e seu filho pequeno de aproximadamente 4 anos. Na segunda tem uma filha de aproximadamente 12 anos e seus dois pais ou duas mães. Na terceira tem uma avó com sua netinha de aproximadamente 8 anos.

Muitas vezes, durante a pandemia, as reuniões de trabalho dos pais e as aulas dos filhos aconteceram no mesmo lugar: a sala de casa. O período de isolamento social fez com que diversas famílias se aproximassem do processo de ensino e aprendizagem dos alunos, e, consequentemente, da escola. 

Apesar dessa relação representar, historicamente, um desafio, Renata Gomes, psicopedagoga e doutoranda pela University of Nebraska-Lincoln (EUA) com especialização em Desenvolvimento Infantil/Educação na Primeira Infância, avalia que houve uma melhoria nas tentativas de aproximação entre professores e responsáveis durante a pandemia. 

“Essa foi uma valiosa oportunidade de olharmos com atenção para essa relação e ressignificar os caminhos que nos ajudam a criar um elo de parceria, onde a colaboração é uma estrutura dinâmica de interação entre responsáveis e professores, que trabalham juntos para atingir objetivos comuns”, explica Renata. 

O segredo, então, mora na palavra colaboração, como em uma união de esforços para apoiar o desenvolvimento acadêmico e socioemocional dos alunos, potencializando sua aprendizagem e rendimento. 

Mudança de perspectiva

Essa aproximação com os estudos dos filhos mostrou ‘o lado aluno’ de crianças e jovens, como explica Renata, incentivando que os pais passassem a fazer o trabalho de mediadores e facilitadores do conhecimento, considerando a distância física dos professores. 

“E foi aí que a percepção começou a mudar. Muitas famílias tendiam a achar que era só entrar na sala de aula, abrir o livro e pronto. Com o ensino remoto, essa percepção mudou. E ao se depararem com um processo de aprendizagem que envolve metodologias, práticas e manejos especializados, as famílias buscaram se aproximar das escolas pedindo por ajuda”, aponta Renata. 

Desafios e caminhos

Renata elencou alguns desafios comuns que podem dificultar a comunicação entre as famílias e a escola, levando ao afastamento ou dificuldade em estabelecer relacionamentos: 

  • falta de um lugar adequado para o aluno realizar as tarefas de casa;
  • falta de acesso ou limitação à materiais extraescolares para realizar as atividades;
  • sentimento de falta de preparação por parte das famílias para dar esse apoio; 
  • falta de tempo dos pais/responsáveis, com rotinas corridas e longas jornadas de trabalho. 

Para driblar esses percalços e conseguir promover uma boa relação em prol do aprendizado de crianças e jovens, uma das estratégias é promover o que Renata chama de perspectiva focada na parceria família-escola. Não se trata de deixar o estudante de lado – afinal, ele é o foco de todo o processo escolar –, mas priorizar a família e a escola quando o assunto é o alinhamento harmonioso entre esses dois ambientes. 

“Quem faz a parceria acontecer são os responsáveis e os professores. Eles precisam definir um método de comunicação contínuo e eficaz e decidir juntos quais as intervenções que parecem ser as mais assertivas. São eles que criam essa relação em que há troca, onde o esforço é bidirecional. Por isso é preciso uma perspectiva que seja focada na parceria.”

Renata elenca seis ações fundamentais para colocar em prática uma relação de parceria: 

  1. estabelecer uma comunicação frequente e clara entre responsáveis e professores (o que pode acontecer via aplicativos, plataformas, e-mails ou mensagens);
  2. fazer perguntas abertas e ouvir com atenção o que o outro tem a dizer nas reuniões e encontros; 
  3. enfatizar a importância do trabalho em conjunto; 
  4. focar nos pontos positivos dos estudantes, pois são eles que vão ajudar a enfrentar as dificuldades e desafios do processo educacional; 
  5. criar planos de intervenção nas dificuldades escolares em conjunto e implementar as mesmas estratégias nos dois contextos, sempre monitorando o desempenho do estudante em cada ambiente; 
  6. ser transparente quanto aos desafios enfrentados – responsáveis e professores precisam ser sinceros e confiantes uns com os outros, pois só assim será possível compreender certas atitudes e identificar as melhores estratégias de superá-las.

O papel da escola

“Quando a importância da família é valorizada pela escola, os responsáveis não têm apenas oportunidades de dar opinião, mas tem voz e são ouvidos. Incentivar essa relação acaba partindo muitas vezes da escola, que precisa se mostrar aberta, flexível, cuidadosa, e segura em seus processos”, ressalta Renata. 

Assim, a especialista também elenca algumas atitudes que podem partir da escola para se aproximar das famílias: 

  • convidar as famílias para conhecer as rotinas escolares e o desenvolvimento de seus filhos quanto aos aspectos acadêmicos e socioemocionais;
  • instituir um modelo de participação democrática;
  • criar projetos pedagógicos que envolvam as famílias;
  • separar espaços na escola para o compartilhamento de cartazes convidativos e acolhedores às famílias;
  • realizar reuniões e encontros periódicos com as famílias para que elas acompanhem o progresso de seus filhos.

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