As várias maneiras de olhar a temática das guerras na sala de aula

Para a historiadora Gislene Lacerda, estudo de mídias e comparação com outros períodos históricos podem ser abordagens para trabalhar o assunto com os alunos 

Com o avanço da tecnologia e disseminação das redes sociais, é possível acompanhar imagens e vídeos em tempo real dos conflitos que estão ocorrendo entre Rússia e Ucrânia. Como essa guerra, que ganha vida diante dos olhos de crianças e jovens, pode ser trabalhada em sala de aula? Quais são as principais diferenças de abordagem ao falar sobre guerras do passado, como as duas grandes guerras e a Guerra Fria, e os acontecimentos atuais?

Gislene Lacerda, graduada e mestre em História, doutora em História Social e professora da disciplina, conversou com a Vivescer sobre o tema. Para a especialista, quando falamos de conflitos geopolíticos, o ponto de partida é buscar entender as origens do desentendimento entre as partes. 

Cavando as origens 

Para Gislene, entender que essa não é uma guerra que aconteceu repentinamente pode ser tema para as aulas de História. A professora explica que a Rússia conta com um passado que vai muito além das guerras mundiais e da Guerra Fria, o que se reflete nos discursos utilizados por Vladimir Putin, presidente do país, sobre as origens das duas nações. 

Essa oportunidade de entender que o tempo presente é influenciado por fatos históricos reforça para os estudantes a importância do estudo da disciplina de forma a possibilitar a compreensão dos desdobramentos atuais, como comenta a educadora. 

Paralelos 

Outro ponto interessante é estabelecer paralelos entre os eventos históricos. Se muita gente diz que o mundo está à beira de uma terceira guerra mundial, Gislene argumenta é possível comparar os contextos vigentes nos períodos que antecederam esses grandes conflitos. 

“Em 1873 e 1906, o mundo quase entrou em guerra por conta de crises do capitalismo. Mas no caso da Ucrânia, o que talvez mais se assemelhe seja o cenário antes da Primeira Guerra Mundial, onde todas as esperanças vindas da época da Belle Époque, um período de desenvolvimento e novas tecnologias, foram frustradas com a Guerra”, exemplifica. 

Segundo a educadora, não é possível afirmar que o mundo está à beira de uma nova Guerra Fria, pois não experimenta das mesmas condições de embate entre capitalismo e socialismos que viu no passado. “Entender as diferenças entre os períodos históricos é um elemento fundamental para compreendermos cada época de acordo com suas características específicas.” 

Reflexão sobre as mídias 

Incentivar uma leitura com intencionalidade pode ajudar estudantes mais velhos, como os do Ensino Médio, a observar com mais criticidade as notícias veiculadas sobre o conflito na Ucrânia. 

Gislene comenta que essa é a primeira vez que o mundo vive um conflito dessas proporções com mais recursos do que apenas a televisão. “É uma guerra narrada e contada a cada minuto pelas redes sociais. Há uma disputa por quem sensibiliza mais, e isso traz seus riscos. A ânsia pela notícia faz com que as informações sejam divulgadas sem muita confiança.” 

Por isso, ela incentiva que professores orientem seus alunos a buscar conteúdos em agências de notícias confiáveis, comprometidas com a narrativa do que realmente está acontecendo. “Uma notícia de rede social não passa pelo crivo importante da verificação de informação e comprometimento com a verdade.” 

Outro ponto diz respeito a compreender que o uso da mídia e da propaganda, inclusive para sensibilizar a população sobre a guerra, já existia em outras épocas. A diferença para os dias atuais é a proporção que as novas tecnologias dão à disseminação das notícias. 

Fique por dentro

Falando em resolução de conflitos, qualidades como mediação, diálogo e empatia são essenciais tanto em grandes embates quanto em eventos da nossa rotina, como desentendimento entre alunos.

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