“Se precisar, peça ajuda”. Com esse lema, o Setembro Amarelo chega à sua nona edição para conscientizar a população sobre a prevenção do suicídio. Apesar de o tema ainda ser visto como tabu, a campanha pela valorização da vida tem ganhado cada vez mais visibilidade, e a escola não pode ficar de fora dessa conversa. 

De acordo com dados da OMS (Organização Mundial de Saúde), o suicídio é a quarta principal causa de mortes entre jovens de 15 a 29 anos, ficando atrás apenas de acidentes no trânsito, tuberculose e violência interpessoal. Estima-se que um em cada seis brasileiros, com idades entre 10 e 19 anos, enfrenta algum transtorno mental, o que coloca esse grupo em uma situação de maior vulnerabilidade diante dos riscos de automutilações, depressão e suicídio, conforme indicado no relatório Situação Mundial da Infância 2021, desenvolvido pelo UNICEF (Fundo das Nações Unidas para a Infância). 

“Os alunos necessitam ser escutados, e muitas vezes eles gritam por socorro de forma implícita. Pode ser por meio de um desenho, de uma letra diferente. O professor tem que ter esse olhar para perceber quando eles estão precisando de ajuda”, reforça a professora Silmara Rizzo Fidalgo, que trabalha no Colégio Caetano Álvares, em São Paulo (SP). “Eu dou aula há mais de 25 anos e, ao longo da minha caminhada como professora, já perdi alguns alunos. Pude perceber de perto a dor que isso provoca na família e na escola”, recorda. 

Hoje, na escola em que Silmara trabalha, as conversas sobre saúde mental não estão restritas ao mês de setembro. “Esse assunto é tratado durante todo o ano”, destaca a professora, ao mencionar que o colégio tem um trabalho voltado para a promoção da saúde mental e conta, inclusive, com duas psicólogas, uma que acolhe os alunos e outra que atua em parceria com os professores. 

Em uma das ações que aconteceram na escola, ela diz que os alunos foram convidados a depositar desabafos em uma caixinha instalada no corredor. “Deixamos ela bem bonita, enfeitamos uma parede e disponibilizamos post-its para que pudessem escrever. Depois, a professora de socioemocionais analisou as questões mais relevantes e fez rodas de conversa com as turmas.” Em outra atividade, por exemplo, os adolescentes tiveram que registrar as qualidades que eles enxergavam nos colegas. “Isso também foi muito legal”, lembra.    

A partir das suas experiências e das vivências de outras colegas, para encorajar conversas abertas sobre saúde mental e bem-estar emocional em outras escolas, a professora gravou um vídeo no seu canal do YouTube com uma série de atividades que podem ser aplicadas com crianças, adolescentes e jovens. “Essa foi a forma que eu encontrei de levar o assunto para outras salas de aula.”

Como ir além da campanha do Setembro Amarelo

No Centro Educacional de Tempo Integral Engenheiro Professor Sérgio Alfredo Pessoa Figueiredo, em Manaus (AM), o professor Erison Soares Lima também tem desenvolvido ações que vão além da campanha do Setembro Amarelo. Por lá, ele realiza uma atividade chamada “Abraço Grátis”, em que mobiliza alguns alunos para tocarem músicas e distribuírem abraços entre colegas e professores. 

Outro projeto que acontece na escola é o “Clube do Silêncio”. Inspirado em dinâmicas semelhantes a grupos de apoio, como Alcoólicos Anônimos e Narcóticos Anônimos, o professor estabeleceu um espaço semanal onde os estudantes se reúnem para compartilhar suas vivências pessoais. Essas reuniões ocorrem todas as sextas-feiras, das 12h às 13h. Erison explica: “Eu inicio o encontro e, a partir desse momento, damos início à conversa. Eles se sentem muito à vontade para falar. E não são apenas experiências negativas que são compartilhadas, eles também trazem coisas boas que aconteceram. É um espaço de socialização.”

Para construir uma cultura de acolhimento na escola, Erison diz que é fundamental abrir espaços de diálogo para que os estudantes se sintam à vontade para falar, sem o temor de serem julgados. A postura do educador também desempenha um papel significativo na conquista da confiança dos alunos. “Dependendo de como o professor se relaciona com os alunos, eles vão se sentir mais ou menos à vontade para se abrir e conversar”, diz.

Com base em sua experiência, Erison afirma que os alunos sempre revelam indícios do que estão enfrentando. “Isso pode acontecer tanto pelo silêncio quanto pelo excesso de brincadeiras ou situações de bullying. A mudança de comportamento evidencia que algo está acontecendo”, afirma. E ele conclui: “A principal dica é estar disponível e ser sensível à voz do aluno.”

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