Paralimpíadas reforçam os benefícios de trabalhar diversidade nas escolas

Segundo especialista, atividades e rodas de conversa podem incentivar a inclusão de pessoas com deficiência e ajudar a tornar a escola um espaço para todos

Fotos dos atletas Daniel Dias segurando medalha de ouro, Petrúcio Ferreira comemorando e Evelyn de Oliveira concentrada. Texto: Paralimpíadas na escola: abordando a inclusão em sala de aula

Depois dos Jogos Olímpicos, é hora das Paralimpíadas de Tóquio marcarem o mundo. A disputa dos 22 esportes paralímpicos teve início no dia 24 de agosto e termina 5 de setembro. O evento esportivo levanta grandes debates e discute, principalmente, a importância da inclusão de forma ampla e em diferentes espaços, inclusive na escola.

É verdade que os Jogos Paralímpicos são uma grande oportunidade para pensar abordagens adaptadas e inclusivas nas aulas de Educação Física, por exemplo. No entanto, é importante que esse debate vá além do esporte e reforce outros aspectos da inclusão de pessoas com deficiência (PCDs). 

Para Carla Mauch, uma das coordenadoras da organização social Mais Diferenças – Educação e Cultura Inclusivas, o evento reforça que PCDs são indivíduos que têm o direito de participar de tudo aquilo que faz parte do cotidiano. 

Exclusão

Um dos grandes questionamentos de Carla é: por que só vemos tantas pessoas com deficiência nas Paralimpíadas? O mais comum seria encontrar PCDs em todos os lugares. Isso porque, de acordo com o Censo 2010, quase 46 milhões de brasileiros (24% da população) declararam ter algum grau de dificuldade em pelo menos uma das habilidades investigadas (enxergar, ouvir, caminhar ou subir degraus), ou possuir deficiência intelectual. 

“Os professores podem trazer essa porcentagem e questionar com os alunos por que não vemos tantas crianças e jovens com deficiência nas escolas, reforçando que muitas dessas pessoas foram excluídas ao longo da história”, propõe Carla. 

Direitos humanos sim, capacitismo não

Essa edição dos Jogos Paralímpicos também reforçou outra questão importante: o vocabulário da diversidade. Se você pensa em usar palavras como “especial” ou “exemplo de superação” para se referir aos atletas, pense duas vezes. Isso porque essas práticas encaixam-se, em muitos casos, no chamado capacitismo, isto é, a prática de não enxergar PCDs como pessoas normais e capazes de grandes feitos, reduzindo-as às suas deficiências. 

“É importante trazer um contexto na perspectiva dos direitos humanos e não de assistencialismo e capacitismo, que muitas vezes mostra as pessoas com deficiência como super-heróis, como se elas tivessem ultrapassando barreiras. Ter o direito à prática esportiva é ter o direito à igualdade de oportunidades”, explica Carla.  

Bom para todos

Mesmo considerando que muitas pessoas não irão estudar com um PCD ao longo da vida, é importante que o debate aconteça em todas as salas de aula. Um dos caminhos para essa abordagem pode ser por meio de atividades e rodas de conversa envolvendo os quatro valores paralímpicos: coragem, determinação, inspiração e igualdade. 

“Os valores paralímpicos estão relacionados a uma sociedade que se preocupa com a igualdade e com o direito de todos, aproveitando as muitas histórias que podem nos inspirar. São princípios e valores que também estão dentro do cotidiano da escola”, comenta Mauch. 

Segundo a coordenadora, é possível realizar paralelos entre os Jogos e a sala de aula. Se existem diferentes formas de nadar, por exemplo, existem diferentes formas de ensinar um conteúdo. É por isso que ela defende que um olhar cuidadoso para a inclusão na escola beneficia a todos. 

“No nosso trabalho de formação de professores e desenvolvimento de práticas pedagógicas inclusivas e acessíveis, fica muito mais claro a cada dia que um professor que acolhe as diversidades de todos os alunos é um educador que se relaciona muito melhor com essa diversidade e que pensa em estratégias diversificadas. Não se trata de adaptar os conteúdos curriculares para um aluno com cegueira ou para um aluno estrangeiro que está chegando à escola, mas pensar nas infinitas formas de propor atividades e práticas para que os alunos possam acessar o conhecimento de várias formas.” 

Na prática

Carla explica que, apesar de ser um recurso de acessibilidade para alunos com deficiência visual, a audiodescrição pode ser considerada uma ferramenta potente a ser utilizada por todos os estudantes em uma sala de aula. A prática apoia a realização de leituras críticas, descritivas, poéticas, narrativas e dissertativas de uma mesma imagem. 

“A audiodescrição diz respeito à atenção, a olhar, a fazer leitura de imagens, a poder trabalhar as questões do letramento visual. Coisas tão importantes no mundo contemporâneo inundado de imagens e tão pouco trabalhada tanto na formação dos professores, como nas práticas pedagógicas.” 

Outro exemplo é a Língua Brasileira de Sinais (Libras). Carla explica que se trata de uma língua gestual e visual que pode ser interessante para acompanhar práticas pedagógicas. “Existem múltiplas formas de ler, escrever, falar, se movimentar e de fazer esportes. Cada uma dessas alternativas são possibilidades para todos os alunos acessarem o conhecimento de diversas formas.” 

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