Outubro Rosa: especialista reforça a escola como lugar potente para debater o tema

Educadora do Instituto Vencer o Câncer, parceira da Vivescer em nova publicação, defende importância de expressão de emoções e estilo de vida saudável para combate e tratamento do câncer 

Outubro é o mês no qual surgem lacinhos rosas que representam a luta pela conscientização, prevenção e tratamento do câncer de mama. Surgida nos Estados Unidos, na década de 1990, com a distribuição de laços cor de rosa pela Fundação Susan G. Komen for the Cure durante a Corrida pela Cura, em Nova York, a iniciativa se espalhou pelo mundo, tornando outubro o mês oficial de conscientização sobre a doença. 

Segundo dados do INCA (Instituto Nacional de Câncer), o câncer de mama é o tipo que mais alcança mulheres no mundo. Em 2020, estima-se que foram aproximadamente 2,3 milhões de novos casos, o que representa 24,5% de novas ocorrências de câncer em mulheres. 

Por entender que a prevenção e conscientização sobre o tema é dever de todos e precisa começar logo cedo, o Instituto Península e a Vivescer desenvolveram, em parceria com o Instituto Vencer o Câncer, a publicação Outubro + Rosa. Jamile Coelho, educadora e especialista no assunto, apoiou o desenvolvimento da publicação e conversou com a Vivescer sobre a importância de ações escolares durante o Outubro Rosa. Confira a seguir. 

Vivescer: Qual é a importância de levar o debate sobre câncer de mama e Outubro Rosa para dentro da sala de aula? 

Jamile Coelho: Levar o debate sobre o câncer de mama e o Outubro Rosa para dentro da sala de aula é fundamental. Muitas crianças estão vendo familiares e amigos vivenciando o câncer, é algo que está dentro da vida das pessoas. Por isso, quanto mais o assunto chegar dentro da escola, mais ela se ocupará com a formação e autoconhecimento das pessoas, para que tanto crianças como adultos tenham melhores condições de enfrentar os desafios que a vida traz. 

Vivescer: Como trabalhar o Outubro Rosa nas escolas? É possível desenvolver atividades com crianças menores ou trata-se de um assunto apenas para adolescentes? 

Jamile: Acredito que as crianças deveriam ter um trabalho mais voltado para expressão do que sentem, seja por meio da arte, da expressão corporal, da música, de vídeos infantis sobre o assunto ou da literatura infantil. Em relação aos jovens, vejo a importância de eles mesmos pesquisarem e determinarem o que gostariam de saber, e, depois, que tragam o resultado de suas pesquisas para discussão em grupos formados de acordo com os interesses comuns para, em seguida, apresentar para a turma. Os jovens precisam de informação, mas também de espaços, como rodas de conversa, para que possam refletir e observar como lidam com essa situação diante de um caso dentro da família ou de algum espaço de relacionamento. E para existir uma roda de conversa, com uma escuta ativa, é preciso que se forme um círculo de confiança.

Vivescer: Existe algum tipo de ação durante o Outubro Rosa que possa envolver toda a escola? 

Jamile: Seria muito interessante que, neste período, possam ser espalhados pela escola cartazes construídos e criados pelos estudantes que trouxessem um pouco de conhecimento sobre a doença e, ao mesmo tempo, muitas imagens de acolhimento e de pessoas em tratamento.

Vivescer: Como a parte física se relaciona ao processo de prevenção, tratamento e cura da doença? 

Jamile: Para tratar do Outubro Rosa e do câncer de mama, é muito importante reforçar que a influência que o estilo de vida tem no início da doença e na cura. Um estilo de vida saudável tem a ver com uma alimentação com menos produtos processados, farinha branca e açúcar e com o corpo em movimento. Cada um precisa encontrar a forma de movimentar o corpo que concilie disciplina e prazer, seja corrida, yoga, esportes ou caminhada. O sono de qualidade também é muito importante, pois é durante a noite que o nosso corpo vai recuperar tudo o que foi gasto em termos de energia durante o dia. Quantas pessoas ficam até tarde no celular? Hoje os fatores de dispersão da nossa atenção são muito fortes e atrapalham o nosso sono. 

Vivescer: Qual é a relação entre o tratamento contra o câncer e uma boa saúde mental? Que outras esferas do ser humano encontram relação com o câncer? 

Jamile: Na parte mental, precisamos desconstruir vários preconceitos. A cultura do medo foi muito forte na nossa educação e isso influencia na forma de olhar as coisas, não como algo a ser apreendido, mas como julgamento. Ter a mente ativa para sempre aprender algo novo dentro de uma área de seu interesse é muito importante. Sobre a parte emocional, apesar de não termos sido acostumados, a expressão de emoções e sentimentos em um lugar de confiança é extremamente importante para nossa saúde, pois sabemos que toda doença tem um fundo emocional. Já a parte espiritual tem muito a ver com a sua energia, aquilo que você acredita e a forma como faz seu dia acontecer. O estilo de vida olhando o ser humano de forma integral, nos aspectos físico, mental, emocional e espiritual, é fundamental no tratamento e na prevenção do câncer. 

Vivescer: Quanto à parte emocional, por que essa expressão dos sentimentos é tão importante? 

Jamile: Quando uma pessoa recebe o diagnóstico da doença, ela sai totalmente da sua zona de conforto. As emoções emergem e se não forem expressas num campo de confiança e acolhimento, aquele caminho de luta por uma cura fica muito mais longo e difícil. Para isso, é importante que tenham diferentes canais de expressão. Tem pessoas que se expressam escrevendo, falando, mantendo-se ativas, com artesanato, trabalho manual, leitura, música, meditação, oração, em contato com os animais e a natureza ou em rodas de conversa. Tudo isso poderia ser trabalhado na escola, na família ou em qualquer espaço que envolva relações, porque onde existem relações humanas, existem emoções e sentimentos que precisam ser validados, expressados e curados. Isso é importante tanto no tratamento da doença, como no caminho da cura.

Vivescer: De que forma professores podem se preparar para debater o assunto com a seriedade e respeito que ele merece? 

Jamile: É preciso que seja criado, em primeiro lugar, um clima de acolhimento e de confiança que vai sendo construído na medida que aquele assunto vai sendo trabalhado. Para isso, o professor deve se olhar como um ser humano com habilidades e vulnerabilidades e que pratique esse olhar também com os alunos. Quando isto acontece, cada um vai tendo uma oportunidade de expressar aquilo que sente e quando as pessoas começam a falar de algo considerado vulnerável, é impressionante como todo mundo se conecta e esse clima de empatia, de respeito e de seriedade vai sendo construído.

Vivescer: Que impacto as atividades e debates podem ter nos estudantes e em suas famílias? Como lidar com isso? 

Jamile: Tenho certeza de que tudo que é trabalhado com os estudantes chega até as famílias, e, por isso, vejo essa situação como uma oportunidade de aprendizado. O ideal seria que um projeto sobre o Outubro Rosa envolvesse toda a comunidade escolar, inclusive as famílias, pois seria uma grande oportunidade de abrir este espaço para educação emocional também dentro das famílias. 

Fique por dentro 

Esses conteúdos trazidos por Jamile e outras informações estão disponíveis na publicação Outubro + Rosa, que pode ser acessada neste link.

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