Escola trabalha com a natureza e estimula o desenvolvimento socioemocional dos estudantes durante a pandemia

Localizada ao lado do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, em Goiás, a escola Vila Verde combina autoconhecimento,valorização das emoções dos alunos, protagonismo, trabalho por projetos, independência e autonomia.

A frase ‘a natureza é uma escola’ ganha novo significado na escola Vila Verde, localizada ao lado do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, em Alto Paraíso, em Goiás. Gerida pelo Instituto Caminho do Meio, a instituição usa sua área de 46 hectares e uma abordagem de ensino considerada inovadora e criativa para incentivar que alunos aprendam sobre o entorno e sobre suas próprias emoções.

Para Daniela Razuk, professora de turmas de oitavo e nono ano do Ensino Fundamental e membro da coordenação pedagógica, foi justamente essa abordagem voltada ao socioemocional que ajudou os alunos a lidarem melhor com a pandemia. Ela explica que, além do fato de os estudantes já estarem acostumados a falar sobre seus sentimentos, entendendo que existe essa abertura na escola e que se trata de um espaço seguro, as práticas online durante aulas remotas tiveram muitas conversas com esse caráter.

“Queríamos entender como nossas crianças e jovens estavam se sentindo, como foram as adaptações e quais eram as expectativas de futuro. Entendemos que, principalmente no começo da quarentena, era fundamental priorizar no currículo o trabalho com questões socioemocionais para que eles tivessem mais esse espaço de expressão e vazão de seus pensamentos”, afirma a professora, que também já esteve na gestão da escola em 2020.

 

Práticas pedagógicas e o socioemocional

A conversa sobre os sentimentos e as vivências durante a pandemia também apareceram em propostas pedagógicas ainda em 2020, como nas aulas de língua portuguesa para os anos finais do ensino fundamental. O projeto “Memórias de uma Quarentena” uniu o aprendizado de gêneros literários e os sentimentos. “Em uma semana, os estudantes aprenderam sobre poesia e as métricas, e depois precisaram escrever um poema sobre como se sentiram durante o ano. Em seguida, foi a vez de contar o fato mais engraçado do ano em um texto narrativo. Os alunos também aprenderam a fazer entrevistas, e conversaram com algum familiar sobre a vivência em quarentena”, explica Daniela.

Para a professora, esse trabalho com as emoções está muito relacionado à missão da escola de educar para a felicidade. Esse bem-estar está intimamente conectado ao autoconhecimento. Por isso, se expressar e refletir sobre seus sentimentos é uma forma de, primeiro, entender como cada pessoa funciona, o que faz bem ou não para cada um e o que é possível fazer para se sentir melhor.

“Esse processo de [os estudantes] reconhecerem e colocarem para fora tudo o que foi vivenciado e sentido, como ansiedade, medo e tristeza, foi a forma que encontramos para garantir um espaço para tudo isso sair de cada um e, uma vez no mundo, pensarmos juntos o que poderíamos fazer para ter uma adaptação melhor e mais saudável diante desse cenário. A busca da felicidade foi nesse sentido, de se adaptar à nova realidade, aceitá-la e, dentro dessa aceitação, buscar válvulas que te deixam melhor.”

 

Emoções, trabalho por projetos e o protagonismo estudantil

A pandemia trouxe, para muitas escolas, algo que já era institucionalizado na escola Vila Verde: o trabalho por projetos. Para Daniela, o fato dessa prática já estar internalizada entre os estudantes e ser encarada como algo do dia a dia da instituição foi de grande ajuda durante a adaptação para o mundo online. Isso porque os alunos já tinham a autonomia e consciência necessária para realizar suas pesquisas de forma independente.

“Observamos que os estudantes que mais estavam sofrendo nessa transição eram de escolas mais tradicionais, onde estavam acostumados a receber todas as orientações dos professores. Nós não tivemos dificuldade nenhuma nesse sentido, porque nossos alunos estão habituados e encaram com naturalidade essa independência. Há tranquilidade para buscarem as informações, enquanto os encontros online ficam reservados para professores tirarem dúvidas e orientarem”, explica a professora.

Além disso, a consciência dos estudantes também facilitou que eles participassem das decisões tomadas pela escola e pudessem, aos poucos, lapidar as práticas durante a pandemia. “Nós dialogamos muito abertamente, perguntando como poderíamos adaptar para que todo o processo ficasse mais leve. E eles realmente deram dicas, opiniões e sugestões sensatas e pertinentes e entenderam que, até certo ponto, poderíamos mudar, mas que em outros assuntos não havia o que fazer, então também foi um aprendizado de lidar com a própria frustração.”

 

Retomada verde no ensino híbrido

Ainda em 2020, a coordenação da escola, juntamente com os professores, percebeu a importância de diversificar as propostas pedagógicas para os estudantes e incentivar que desenvolvessem projetos mais práticos e menos teóricos, com o objetivo de ampliar os estímulos e reduzir o tempo de tela. “Começamos a estimular que os alunos desenvolvessem projetos ligados à saúde física, mental e aspectos relacionados à natureza, sugerindo informações sobre plantio, como fazer uma horta no quintal ou apartamento. Além disso, reforçamos a importância de praticar exercício físico, fazer alongamentos e priorizar atividades que fossem boas para o corpo e a mente.”

Pensar em práticas alternativas será, inclusive, algo a ser mantido na retomada gradual das aulas presenciais. Seguindo as diretrizes de retorno com apenas 30% da capacidade, Daniela explica que a equipe da escola tem discutido sobre formas de aproveitar melhor os momentos presenciais, unindo a necessidade de estar ao ar livre por conta da pandemia, com os benefícios que essa vivência traz aos estudantes.

Para a professora, uma das práticas que foi prejudicada em 2020 e que poderá ser resgatada nesse retorno é a vivência do lado artístico com pinturas e desenhos, que indiretamente está relacionado à regulação das emoções.

“Estamos pensando em manter a parte mais formal, do desenvolvimento de projetos, de forma online para que, quando estivermos na escola, possamos fazer atividades juntos, respeitando o distanciamento. É um movimento de resgatar a sociabilidade, o que não significa estar em contato físico, mas estar junto, mesmo que distante, nessas micro-sociedades que são a escola e as turmas”, completa.

 

Foto: jcomp/Freepik 

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