Trabalho com emoções e sentimentos ainda na infância potencializa a formação de uma geração emocionalmente mais saudável

Novo e-book da Vivescer traz dicas sobre como educadores podem apoiar que crianças e jovens regulem as emoções dentro e fora da sala de aula 

Viralizou nas redes sociais o vídeo de um professor que, caminhando cansado pelos corredores de uma escola, para antes de entrar na sala de aula e começa a ensaiar sorrisos e faz breves exercícios de alongamento. Apesar da atitude ser válida, o caso mostra que, por mais que esforços sejam empenhados, é impossível evitar completamente que sentimentos e emoções acompanhem nossas vidas em todos os momentos. 

O novo e-book da Vivescer – “5 dicas para regular as emoções em sala de aula” – mostra que apesar de não ser possível esse “desligamento”, existem truques e dicas para controlar o que sentimos, pautados no autoconhecimento, autocuidado, empatia e cooperação. 

“As emoções e sentimentos permeiam todo o tempo o cotidiano da escola: nas relações entre as pessoas, nos conflitos, na relação com a aprendizagem, com o espaço, nas conquistas, nos desafios etc. Podemos escolher olhar para isso, cuidar de como isso emerge em cada um/a ou podemos escolher não dar luz a isso. Mas as emoções e sentimentos vão estar presentes”, explica Milena Paes, diretora pedagógica do Projeto Terra Preta, escola de Educação Infantil e Fundamental 1 inspirada na natureza. 

Para que esse controle seja possível e efetivo, é necessário desenvolver e exercitar as competências 8 e 9 da BNCC (Base Nacional Comum Curricular), que dizem sobre a importância de conhecer-se, apreciar-se e cuidar de si e exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e a cooperação. Além disso, Milena também afirma que a própria BNCC prega a educação integral, o que abrange os aspectos emocionais, que estão profundamente ligados à aprendizagem. “Para nos desenvolvermos integralmente precisamos cuidar de todas nossas dimensões e isso envolve as emoções e sentimentos”, afirma. 

Emoções x sentimentos 

Compreender que emoções e sentimentos são coisas diferentes pode ser um primeiro passo para mergulhar no tema. De um lado, as cinco emoções universais: raiva, tristeza, nojo, medo e alegria, reações instintivas do corpo, irracionais e automáticas, que não passam pela consciência e simplesmente acontecem e são experimentadas por todos os seres humanos. A diferença está nos sentimentos que elas despertam. 

“Em alguns, o medo do escuro pode despertar apenas insegurança, enquanto em outros pode despertar desespero”, exemplifica Milena. Essa diferença acontece por conta da individualidade de cada pessoa: os sentimentos estão mais relacionados aos pensamentos, crenças e memórias, e são influenciados por experiências pessoais. 

Oportunidades 

Aproveitar as oportunidades e ocasiões do dia a dia para abordar o tema com crianças é um caminho promissor, segundo Milena. Uma manifestação de raiva pode desencadear um debate. 

A ideia é falar sobre emoções e sentimentos aos poucos, apoiando as crianças na regulação emocional. “Se trazemos tudo de uma vez e falamos de coisas que eles não vivem, não conhecem, não sentem, a chance do trabalho não fazer sentido é grande.” 

Outro ponto de atenção é a constância. Ao invés de abordar o tema esporádica ou pontualmente, deve-se fazê-lo sempre. “Penso que esse trabalho tem mais a ver com abrir e trilhar caminhos para a autopercepção. Nosso papel como educadores é apoiar as crianças nesse trajeto.” 

Para todas as faixas etárias 

O trabalho com as emoções não limita-se a uma única faixa etária. Para Milena, trata-se de algo que deve ser abordado ao longo da vida toda, considerando que não é incomum que adultos se descompassem diante de situações desafiadoras. 

“A busca pelo equilíbrio e pela manifestação emocional construtiva é um exercício e começar esse trabalho na infância potencializa muito a formação de uma geração emocionalmente mais saudável”, afirma. 

Segundo a educadora, com as crianças pequenas o mais importante é criar um ambiente emocionalmente seguro, que ofereça respeito, acolhimento, tranquilidade, que atenda às necessidades de cada uma e que favoreça manifestações saudáveis das individualidades. Já com alunos mais velhos, uma estratégia possível é apoiá-los a inserir pensamentos conscientes e ações intencionais que dão contorno às reações impulsivas e inconscientes. 

O trabalho é facilmente adaptável, mas deve-se compreender as características e individualidades de cada faixa etária. “Com crianças pequenas o trabalho de dar luz a emoções e sentimentos está mais nas ações, nos gestos, nas relações e menos na consciência. Conforme as crianças vão crescendo, podemos ancorar mais o trabalho, falar sobre o tema, refletir nossas ações, nomeá-las, escolher estratégias. O que aprendi no meu trajeto de educadora é que não existe uma fórmula e o importante é estarmos conectados com a turma e abertos para esse trabalho.” 

 Dicas de atividades 

 1) Quadro das emoções e sentimentos

Quadro permanente que fica exposto na sala de aula com o nome das 5 emoções. A cada situação vivida, é possível adicionar papéis com os nomes dos sentimentos experimentados. Nessa fase é possível contar com apoio de filmes – como Divertida Mente, da Disney, e livros, além de realizar muitas conversas com os alunos. 

 2) Check-in emocional

Processo de recepção dos alunos, onde, em grupo, cada um fala como está se sentindo e como chega à escola naquele dia, quais emoções está sentindo e por quê. Nesse momento, é importante oferecer segurança e abertura ao grupo.

3) Espaço da calma

A ideia é criar um espaço permanente na sala de aula com velas, livros, alguns brinquedos, tapetes e almofadas – ou outros objetos que os próprios alunos já utilizam para se acalmar – para que possam ir quando sentirem que precisam se equilibrar emocionalmente. 

Regulando as emoções na prática 

Para que os educadores consigam trabalhar o tema com crianças e jovens, é importante que, antes, possam cuidar de suas próprias emoções. “Gosto sempre de lembrar Paulo Freire, que com suas reflexões nos convida ao constante exercício da coerência. Se eu não busco trilhar um caminho de regulação das minhas emoções e sentimentos, como quero que as crianças e jovens que acompanho o façam?”, questiona Milena.  

Para apoiar o trabalho dos educadores na orientação de como crianças podem regular suas emoções, ela elenca dicas: 

  1. Sempre validar o que as crianças estão sentindo. A busca é por equilibrar as reações, não parar de sentir. Ex: “Tudo bem sentir raiva”; 
  2. Após validar o sentimento, traçar limites e contorno de ações que não são saudáveis. “Eu entendo sua raiva, tudo bem se sentir assim, mas não podemos bater”;
  3. Conectar emoções às situações vividas, percebendo quais situações disparam determinados sentimentos. Ex: “Percebi que estão animados pois finalizaram esse trabalho”. 

 As crianças também podem seguir alguns caminhos, como respeitar seu tempo e espaço, respirar fundo, compartilhar os sentimentos, conversar e utilizar outras linguagens para se expressar, como desenhos, danças, músicas. 

 Fique por dentro 

O e-book 5 atividades para regular as emoções na sala de aula está disponível na íntegra no site da Vivescer. Acesse.

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