Uso do celular na escola: como torná-lo aliado na sua aula?

Especialista analisa com otimismo novas práticas que surgiram com as aulas remotas na pandemia, mas ainda aponta insegurança e receio entre os professores 

O uso do celular na sala de aula sempre foi controverso. Em um mundo marcado pela exposição excessiva da tela em idades cada vez mais precoces, pode ser uma contradição aceitar que os alunos dividam a atenção da aula com as notificações que chegam a todo momento no smartphone. 

Segundo levantamento realizado pelo PoderData, a internet é o principal meio de acesso à informação hoje dos brasileiros: são 43% os que se informam primariamente pela web – 22% por redes sociais e 21% por sites e portais. E o principal dispositivo para se conectar é o celular – Dados do módulo suplementar “Acesso à Internet e à televisão e posse de telefone móvel celular para uso pessoal”, da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua), relativos ao ano de 2021, mostram que o aparelho é utilizado em 99,5% dos domicílios com acesso à Internet.

Doutor em educação pela UNISO, Ricardo José Orsi de Sanctis pesquisou o quanto os professores estão abertos para a presença dos celulares dos alunos durante as aulas. Para ele, o professor vive um conflito por não ter direcionamentos claros sobre o que fazer com o celular em sala de aula.  Enquanto há documentos internacionais que incentivam práticas pedagógicas com o aparelho, no Brasil há leis estaduais e municipais que ainda reproduzem a ideia do celular como uma barreira ao bom ensino. 

“O contato com esses diferentes discursos faz com que o professor ainda não tenha uma posição definida a respeito do assunto. Enquanto a dúvida preponderar, as relações estabelecidas serão sempre as de poder que proíbem, controlam e que, poucas vezes promovem uma reflexão que questione: como proibir o uso de um computador de bolso que faz e fará parte da vida cotidiana do aluno?”, questiona Ricardo, que hoje é vice-diretor da Faculdade de Tecnologia de Sorocaba e professor titular da Universidade Paulista.

Boas práticas 

Hoje, a BNCC (Base Nacional Comum Curricular) indica que a escola deve oferecer aos alunos a apropriação das linguagens das tecnologias digitais, e também estabelece a aplicação de ferramentas tecnológicas em cada disciplina para o Ensino Fundamental. Um bom caminho para os professores começarem a perder o medo do celular – e transformá-lo de fato em aliado. 

A seguir, trazemos algumas dicas de boas práticas do celular na sala de aula:

1) Estabeleça combinados com os alunos 

No início do ano letivo, faça acordos com a turma sobre o que pode ser feito ou não com o celular. Trabalhe com acordos, e não necessariamente com regras, para conquistar a confiança dos alunos e estabelecer uma comunicação mais horizontal. O combinado também pode se tornar um debate importante sobre bons usos da tecnologia no dia a dia, transformando o momento em uma aula de cidadania digital. 

2) Descubra os aplicativos e as ferramentas que eles utilizam mais  

Também é importante dedicar um tempo do semestre para investigar, entre os alunos, quais são suas redes sociais preferidas, quais aplicativos não podem faltar no seu cotidiano e quais são os sites preferidos para procurar por informações. Com as respostas, é possível pensar em atividades que utilizam como material de apoio o que os alunos já acessam – o que os aproxima ainda mais do conteúdo e da ideia de serem protagonistas do próprio conhecimento. 

3) Crie comunidades de discussão 

Com os recursos de comunidades virtuais do Whatsapp, é possível criar grupos de debate entre os alunos para a troca de ideias dos principais temas discutidos em sala de aula, o que fortalece a união da turma e expande os potenciais da tecnologia para o aprendizado, uma vez que, hoje, todo mundo está no WhatsApp.

4) Conteúdos interativos 

Aproveite o potencial interativo do dispositivo nas suas aulas. Em sua tese de doutorado, Ricardo identifica três formas de uso do celular: o proibido, em que os alunos faziam uso do dispositivo sem que o professor soubesse; o uso limitado, autorizado para algumas atividades; e o uso rizomático – em que as práticas com o celular promoviam atividades inovadoras, como gamificação nas aulas, elaboração de vídeos e de mapas mentais. 

“A proibição observada em sala de aula, relatou muitos momentos em que os alunos o usavam escondido e nunca a serviço do momento pedagógico que viviam e o uso limitado acabava por reduzir as potencialidades que ele oferecia. Vimos que transformar o uso do celular em favor da aprendizagem foi a chave para que professores fugissem da construção fragmentada do conhecimento para uma construção horizontal e com motivação do alunado.”, explica. 

Dessa forma, o celular pode ser um dispositivo fundamental para aulas mais inovadoras, em que os alunos podem desenvolver diversas competências e habilidades. 

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