Trabalho com Projeto de Vida apoia reflexão sobre dimensões pessoal, social e profissional
Componente curricular vai além de um planejamento para o mundo do trabalho: demanda orientação dos educadores, envolve reflexão pessoal e desenvolvimento de competências socioemocionais
“Com a mediação do professor, o estudante pode se apoiar em sua história de vida e conceber um futuro para si a partir de uma postura crítica, fundamentada e condizente com o contexto político, econômico e cultural no qual vive, e que, eventualmente, deseja transformar.” Você sabe sobre o que o professor Felipe Pinheiro está falando?
Projeto de Vida e a potência de trabalhá-lo na escola, temas da nova publicação exclusiva da Vivescer, buscam ajudar a responder a questão: ‘Como apoiar os jovens a planejar com consciência os caminhos que vão seguir?’.
O tema é tão importante que tem uma competência geral da BNCC (Base Nacional Comum Curricular) inteiramente dedicada a ele: “Valorizar a diversidade de saberes e vivências culturais e apropriar-se de conhecimentos e experiências que lhe possibilitem entender as relações próprias do mundo do trabalho e fazer escolhas alinhadas ao exercício da cidadania e ao seu projeto de vida, com liberdade, autonomia, consciência crítica e responsabilidade.”
Felipe, enquanto mestre e professor de filosofia, estudante de pedagogia e colaborador na elaboração de cursos para professores da Escola Escola de Formação e Desenvolvimento Profissional de Educadores da Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais, explica que, no estado mineiro, Projeto de Vida passou a ser um componente curricular que, além de ser trabalhado transversalmente por todos os outros componentes, possui tempo e espaço específicos para ser desenvolvido na escola.
Múltiplas possibilidades de aprendizagem
Ter uma janela de tempo intencionalmente dedicada ao Projeto de Vida permite aos alunos refletirem sobre suas aspirações, limitações e condições de ações nas dimensões pessoal, social e profissional de suas vidas.
“O Projeto de Vida permite ao estudante vislumbrar, por exemplo, como os conteúdos explorados na escola podem ser colocados ao serviço de seus projetos pessoais, promovendo uma formação integral e personalizando as relações de ensino e aprendizagem”, afirma o educador.
Além do desenvolvimento integral, Felipe reforça temas que podem ser trabalhados nas três dimensões (pessoal, social e profissional) para promover inúmeros aprendizados, como:
– reflexão de si de forma crítica;
– reflexão sobre responsabilidades nas dimensões pessoal, social e profissional;
– regulação emocional;
– espiritualidade e da manifestação da fé como determinantes para a ação humana;
– educação do corpo em uma sociedade pautada pelo consumismo e padrões de beleza moldados por questões econômicas;
– a forma de organização de movimentos sociais na própria escola, como o grêmio estudantil;
– a importância de políticas educacionais para inclusão social;
– os conceitos de justiça e direitos humanos enquanto pilares de uma sociedade humana;
– futuro das profissões e a mecanização do trabalho;
– a dinâmica do mercado;
– educação financeira;
– empreendedorismo social;
– compreensão de conceitos como desejo, prazer e consumo.
Tudo isso é possível porque os currículos estão, cada vez mais, trabalhando conteúdos desconsiderados ou abordados superficialmente até então, como é o caso das competências socioemocionais. Para Felipe, o Projeto de Vida, dentro da nova configuração do ensino médio, pode viabilizar um trabalho acolhedor, sistematizado e humano na combinação de anseios e expectativas dos estudantes e da comunidade escolar.
“O Projeto de Vida é uma ótima possibilidade para trabalharmos as competências socioemocionais tanto dos estudantes quanto dos professores. Ele deve ser desenvolvido de modo distinto dos outros componentes curriculares da formação geral básica. Ou seja, além de prezar pela sistematização dos conteúdos a serem estudados, é possível criar coletivamente um ambiente e um tempo de reflexão acolhedor que valoriza os saberes prévios dos estudantes e dos professores, permitindo com que a criatividade e os desejos de todos sejam os principais objetos de conhecimento dos debates e das atividades propostas em sala de aula ou fora dela”, explica.
Caminhos
Respeitar a privacidade dos estudantes é o passo inicial para começar a introduzir o tema com o grupo. Antes de começar, entretanto, é importante considerar a seriedade do trabalho a ser desenvolvido.
Enquanto Felipe reforça que o Projeto de Vida não deve ser encarado como recreação ou orientações vocacionais – mas pode englobar essas questões dentro de um contexto maior -, o conteúdo da Vivescer complementa ao pontuar que não é indicado limitar esse componente curricular a um planejamento para o mundo do trabalho ou a uma única meta, mas sim promover a articulação entre diferentes esferas da vida.
Uma ideia de abordagem sugerida por Felipe é incentivar a reflexão sobre as jornadas pessoais ao longo da vida escolar e até o momento presente, com perguntas básicas e introdutórias, como: Houve planos traçados e efetivados durante sua vida escolar? Se sim, como construiu seus projetos? Se não, como a falta de diretrizes básicas para o futuro podem comprometer o processo formativo de cada pessoa?
O material da Vivescer também sugere uma abordagem inicial mais geral, com atividades ao ar livre, em roda e em locais confortáveis, com questões como o que é, para você, viver uma vida com significado. Também é possível incentivar que cada estudante pense nos principais acontecimentos de sua vida como se fosse em um filme, registrando experiências positivas e negativas em uma linha do tempo.
Promover reflexões sobre os talentos individuais e aquilo que cada um pode desenvolver e trabalhar, além de pesquisas sobre propósito e exercícios que conectem os gostos pessoais dos jovens ao conceito de propósito pesquisado, são outras formas apresentadas para avançar no debate e na elaboração do Projeto de Vida.
Orientações para docentes
O conteúdo da Vivescer aponta que, a partir do Projeto de Vida, o jovem pode traçar um caminho entre quem ele é e quem ele deseja ser, e que o apoio e amparo pedagógico neste percurso trazem clareza e profundidade, sendo, portanto, fundamental o acompanhamento docente.
Entretanto, para que os educadores estejam aptos a fazer essa orientação da forma correta e, assim, evitar confusões e ruídos na comunicação sobre os objetivos e dinâmicas próprias do Projeto de Vida, eles precisam de orientações e formações específicas para compreender a especificidade desse componente curricular e concretizar suas propostas.
Para entender como trabalhar com os estudantes, um caminho é que os próprios educadores elaborem seus projetos de vida ou analisem projetos anteriores. “Essa ação permite aos professores vivenciarem as dificuldades de se fazer escolhas, lidar com frustrações, desnaturalizar os macrossistemas que influenciam as nossas decisões etc. Desse modo, podem mediar as ações dos estudantes nas aulas de Projeto de Vida com muito mais qualidade”, explica Felipe.
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O e-book “Projeto de Vida – O que é e como trabalhar com os alunos” está disponível neste link. Acesse!
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