Alunos confiam no professor como fonte de informação segura: saiba como se preparar
Independente do contexto cultural e socioeconômico, durante grande parte da infância e da adolescência, a escola é um ponto de referência para crianças e jovens. E muitos professores são inspiração para seus alunos. Com a chegada do novo coronavírus ao Brasil e a adoção de medidas como a suspensão das aulas presenciais para conter o contágio, estudantes viram-se perdidos em um mar de incertezas, dúvidas e questionamentos muitos deles sem respostas, e sem a referência do espaço escolar.
Apesar de também terem sentido esse impacto emocional, muitos professores tomaram para si a tarefa de contribuir com a disseminação de informações verdadeiras. Segundo a primeira edição da pesquisa Sentimento e percepção dos professores brasileiros nos diferentes estágios do coronavírus no Brasil, realizada pelo Instituto Península, 66% dos professores respondentes afirmaram acreditar que, no momento inicial da pandemia, seu papel era de disseminar informações seguras para seus grupos mais próximos.
Para Mariana Ochs, Google Innovator e coordenadora do programa Educamídia, o início da pandemia foi acompanhado de uma aceleração da circulação de informações muitas vezes desencontradas, o que ocasionou que instituições reconhecidas internacionalmente, como a OMS (Organização Mundial da Saúde), usasse termos como “infodemia”, uma pandemia de informações, para designar o momento vivido mundialmente e pedisse apoio de redes sociais para combater a propagação de desinformação, mentiras e rumores sobre a nova doença (leia mais).
Nesse cenário, para os estudantes, o “rosto” de todo o processo de mudanças pelos quais o mundo começou a passar era o professor, explica Mariana. “Acredito que recaiu sobre o docente toda a angústia e ansiedade que os alunos estavam sentindo sobre esse contexto novo. Eles precisavam se informar sobre o quê e por que tudo isso estava acontecendo. Não é possível simplesmente fechar a escola e passar a dar aulas online como se nada estivesse acontecendo. É necessário abrir espaço para o socioemocional, para discutir com os alunos porque as coisas estão dessa forma.”
A figura do curador de conteúdo
Todo o contexto atual envolve inúmeras discussões a serem realizadas em diferentes frentes, como a importância da compreensão de que não apenas os professores, mas todos os cidadãos contemporâneos devem exercer o papel de curar o conteúdo a ser consumido, sobretudo em um cenário de crescimento acelerado da quantidade de informações produzidas e consumidas, e a mistura entre os papéis de produtores e consumidores de conteúdos.
Dessa forma, Mariana explica que um dos papéis do docente, que é exercido no ambiente presencial da escola e se mantém durante o isolamento social, é a mediação do entendimento que alunos estão começando a construir sobre o entorno e sobre sua realidade.
Segundo a pesquisa TIC Educação, já antes da pandemia, 55% dos estudantes do 5º ano do ensino fundamental receberam instruções dos professores sobre como usar a internet de um jeito seguro. Ao mesmo tempo, 70% dos alunos do 2º ano do ensino médio afirmaram ter recebido orientações dos docentes sobre quais sites utilizar para fazer trabalhos escolares, ao passo que 66% e 63%, respectivamente, receberam ajuda para usar a internet para fazer trabalhos ou lições e foram estimulados a comparar informações de diferentes sites.
Para Mariana, há algum tempo vive-se uma transformação acelerada sobre o que significa ser letrado e que, a alfabetização, por exemplo, não pode desconsiderar o contexto informacional que o mundo vive. “Consumimos conteúdos de procedências diferentes à medida que temos acesso autônomo a fontes de informações variadas, que não são mais mediadas por alguém que faria essa curadoria por nós”, explica.
Assim, com essa vivência recorrente no mundo digital acelerada pela pandemia, onde alunos fazem mais trabalhos envolvendo consumo e produção de mídias, um dos caminhos é investir na educação midiática, que envolve a habilidade de compreender o ambiente informacional, aprender a fazer curadoria e entender sobre confiabilidade, e o papel de uma pessoa enquanto produtor de conteúdo.
“Essa é uma habilidade básica, um letramento, e que precisa existir dentro do currículo escolar não como algo novo, mas uma nova maneira de aprender o que já precisamos. Isso vale não só para a escola, mas para a vida”, afirma Mariana.
Como praticar educação midiática agora
Apesar de professores e alunos não estarem fisicamente em um mesmo ambiente, é possível fazer algumas mudanças para iniciar ou dar continuidade a um processo de educação midiática, usando os inúmeros insumos que o contexto mundial proporciona diariamente para a discussão sobre produção e consumo de informações.
Confira abaixo algumas dicas de como isso pode ser feito:
– usar textos disparadores – aqueles que iniciam a conversa sobre determinado tema ou conteúdo – de diferentes formatos, mídias, veículos noticiosos, instituições científicas ou culturais, redes sociais e outras fontes;
– propor aos alunos um olhar reflexivo sobre esses textos, com perguntas que ajudam a entender o que estão lendo: qual é a fonte, quem publicou, com qual intenção, qual é o contexto, quais técnicas e linguagens foram utilizadas;
– ir além do jornalismo e buscar mensagens diversas em artigos de opinião, memes, vídeos, quadrinhos, camisetas com mensagens, embalagens e outros;
– envolver os estudantes na avaliação da adequação, confiabilidade e origem dos textos.
Foto: Pexels/August de Richelieu
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