Educadora sugere estratégias para ajudar na adaptação de novos alunos na escola
Acolhimento é fundamental na hora de receber novos alunos; confira as sugestões da professora Fernanda Arantes para esse momento
O início de um novo ano letivo pode ser assustador por si só: novos conteúdos para aprender e professores desconhecidos. Adicione a esse cenário o contexto de pandemia e a vivência em uma escola diferente, onde absolutamente tudo é novidade. Se essa ideia pode assustar, a boa notícia é que existem técnicas para apoiar a adaptação dos alunos nessa fase.
Fernanda Arantes, professora do curso de pedagogia do Instituto Singularidades e especialista em Educação Infantil, explica que independentemente da idade do estudante, o primeiro ponto que professores e famílias devem considerar é que cada sujeito é único. Ou seja, nem todos os processos de adaptação a uma nova escola serão os mesmos.
Outro fator importante é o educador estar alinhado à proposta da instituição onde trabalha. Enquanto existem escolas que promovem uma “semana da adaptação”, outras abrem a possibilidade de a criança chegar sem um horário fixo, ou vão aumentando gradualmente o tempo de permanência dos alunos na escola. O importante é que os professores estejam sintonizados com o que a escola propõe e também saibam que imprevistos podem acontecer.
“Nós, professores, planejamos muita coisa. Mas diante de muitas variáveis, o planejamento não caminha tal qual escrevemos no papel. Uma possibilidade é usar esse momento da adaptação para observar o primeiro dia e pensar algo que pode ser feito de forma diferente no dia seguinte, ou o que interferiu para as coisas acontecerem de determinada maneira. Isso vale para que a adaptação seja feita com mais harmonia e suavidade” sugere a educadora.
Praticando o acolhimento
Fernanda explica que o período de adaptação é naturalmente dedicado à prática do acolhimento, uma vez que as crianças devem se familiarizar com ambientes e pessoas novas. “O acolher passa pela criação de vínculo, e isso não surge de uma hora para outra. É necessário um tempo e um encontro de olhar.” E como a volta à escola tem sido gradual, esse processo ganha ainda mais importância, porque as crianças passaram um longo período em casa com seus familiares.
“Seja crianças bem pequenas que estão começando agora na escola, ou aquelas que já frequentavam antes da pandemia, todas ficaram em casa por muito tempo, muito mais do que anteriormente. Esse corte e separação das famílias é algo muito dolorido e difícil de ser feito. Por isso essa passagem da casa para a escola precisa ser suave, uma transição segura e consolidada.”
Atratividade do ambiente escolar
Os educadores também devem ter em mente a importância de criar atrativos no espaço escolar, com o objetivo de despertar o interesse dos estudantes e fazer com que tenham vontade de ficar na escola. Uma ideia, por exemplo, é propor diferentes ambientes, com brinquedos estruturados ou não, para que as crianças possam se distrair. Em um dia de sol, é possível espalhar bacias com água pelo pátio, ou, no caso de uma criança que se interessou por animais marítimos, criar um espaço temático na sala de aula.
“Deve-se incentivar a criança a entrar no espaço, estar junto, a querer participar e ter curiosidade. Ela precisa sentir que naquele lugar tem algo muito legal”, explica Fernanda.
Para a educadora, o olhar atento dos professores para os interesses de cada criança, juntamente com uma rotina estabelecida e a compreensão de que haverá movimentos de idas e vindas, constituem um bom caminho para a adaptação.
“Em uma semana, a criança pode entrar tranquila na escola e, depois, quando percebe que ficará um período sem ver a família, pode começar a não querer entrar. Por isso, é preciso entender que, às vezes, as coisas podem estar caminhando bem, mas teremos que voltar um pouco para trás.”
Compartilhando experiências
As orientações citadas acima também valem para as crianças mais velhas, com as devidas adaptações. Da mesma forma das crianças menores, estudantes do Fundamental I e II também foram abruptamente afastados de suas rotinas.
Essa reinserção na vida escolar, com novos colegas, professores e conteúdos não pode desconsiderar todo o período que esses alunos passaram em casa. Por isso, aproveitando suas habilidades de comunicação e verbalização mais desenvolvidas, uma ideia é promover rodas de conversa onde cada um possa dividir saberes e vivências que tiveram durante a pandemia.
“Não podemos pensar que essas crianças pararam no tempo, que a vida deu pause e agora continua. Independente da grade curricular ou do segmento, considerar o que foi aprendido fora da escola é muito importante.”
Fernanda comenta que discutir sobre aprendizados que não poderiam ter acontecido na escola – como comer jabuticaba do pé, por exemplo –, é uma forma de cada estudante conhecer a cultura e o contexto do colega e, assim, promover uma aproximação e troca de conhecimentos.
“Essa é uma forma interessante de trazer o que cada um vivencia fora dos portões da escola e também de não jogar fora o que foi feito e vivido neste período de dois anos, criando uma sensação de pertencimento ao trazer essas experiências. São coisas triviais, mas que vão revelando gostos, preferências, habilidades e conhecimentos. Não são componentes curriculares, mas são aprendizagens e vivências.”
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