Como promover acolhimento de professores e alunos em meio ao Setembro Amarelo
Estabelecer uma cultura de acolhimento na escola pode ser uma ferramenta para promover apoio a educadores e estudantes. Setembro Amarelo deve inspirar conversas, propostas e olhar atento nas salas de aula
Se antes da pandemia de Covid-19 ainda poderiam existir escolas que não abordavam saúde mental em suas salas de aula, agora o tema é praticamente inevitável. E todos ganham com isso, já que cerca de 443 mil dos 642 mil estudantes da rede estadual de ensino de São Paulo afirmaram enfrentar sintomas relacionados à depressão e ansiedade, de acordo com um levantamento divulgado em abril pela Secretaria da Educação de São Paulo.
O cenário não afeta somente os estudantes. Inúmeras pesquisas realizadas durante o período de aulas suspensas mostraram que educadores também estão suscetíveis a se sentirem mais inquietos e ansiosos. O Instituto Península, inclusive, lançou alguns materiais, como o guia Orientações de Acolhimento para Professores, para promover essa prática tão essencial.
Diante dos altos índices de questões de saúde mental entre alunos, educadores e demais integrantes da comunidade escolar, o Setembro Amarelo, mês de prevenção ao suicídio, ganha novos contornos de importância. Reafirmar o valor da vida é um posicionamento relevante e necessário para a sociedade como um todo e para cada uma das escolas brasileiras, como defende Ana Flávia Castanho, coordenadora pedagógica da Vivescer.
“Sabemos que os estudantes sentiram os impactos do isolamento social, do medo e do luto que a pandemia de Covid-19 acarretou, muitas vezes sem ter elementos para trabalhar internamente questões tão dolorosas e difíceis. As marcas desse sofrimento os acompanharam de volta para a escola. Não se trata apenas de recuperar aprendizagens, é preciso criar espaços para valorizar essa vida que segue e apoiar aqueles que se mostram mais fragilizados e com poucos recursos para valorizarem a si mesmos”, explica.
Para ela, é importante que o Setembro Amarelo inspire conversas e propostas acolhedoras na escola e reafirme a necessidade de olhar de perto para cada um dos estudantes, oferecendo escuta e apoio.
Cultura de acolhimento e parceria
Trabalhar saúde mental nas escolas pode suscitar alguns debates, como: ‘De quem é realmente o papel de tratar pessoas com alguma questão relacionada à saúde mental?’. A resposta mora no verbo tratar. O tratamento é papel exclusivo de psicólogos e profissionais da área da saúde, cuja atuação é essencial e parte fundamental para evitar que quadros de depressão se agravem e surja o risco de suicídio, explica Ana Flávia.
Entretanto, considerando que é na escola que crianças e jovens passam a maior parte do tempo, é importante que educadores e demais funcionários também estejam atentos à questão para eventualmente encaminhar crianças e jovens para a equipe médica, como também promover mudanças que fazem a diferença e promovem bem-estar na comunidade escolar.
É aí que entra a cultura do acolhimento. Mais do que perguntar se está tudo bem, estabelecer uma cultura de acolhimento no contexto escolar diz respeito a considerar os estudantes em sua integralidade, isto é, entender sua história, suas experiências, dores, exclusões e sofrimentos que experimentam e, assim, reafirmar o papel da escola como espaço seguro de conexão e aprendizagem.
“Uma escola acolhedora, em que o estudante se sinta pertencente e valorizado, tem o potencial de atuar como contraponto a tristezas e dificuldades como as que a experiência de vida ao longo da pandemia tornou presentes para grande parte das nossas crianças e jovens.”
Por isso, Ana defende que a escola deve funcionar como uma rede de apoio para o aprendizado e o desenvolvimento dos estudantes. Ou seja, a ideia é identificar quando um dos estudantes precisa de ajuda e fortalecê-lo quando necessário. “E em alguns casos essa ajuda precisa vir de um psicólogo, que pode fazer parte da rede interna da escola – por ser um psicólogo escolar – ou ser acessado na rede de serviços de saúde e assistência externa à escola.”
Fique por dentro
Por acreditar na importância de orientar professores para que cada vez mais o acolhimento seja uma prática recorrente nas escolas brasileiras, a Vivescer lançou, em junho, o curso “Acolhimento e Bem-Estar na Sala de Aula”. A formação, online e gratuita, oferece ferramentas práticas para que professores construam uma cultura escolar de acolhimento e de bem-estar em suas salas de aula, integradas a atividades de ensino e de aprendizagem.
Com 40 horas de duração, o curso conta com 26 atividades divididas em quatro módulos: A cultura escolar de acolhimento; Roda de conversa e feedback; Ferramentas para uma cultura de acolhimento; e Clima escolar: acolhimento e bem-estar.
São trabalhados temas essenciais para promover a cultura do acolhimento, como a estruturação e realização de rodas de conversa, a escuta como ferramenta primordial de acolhimento, os princípios que fundamentam as relações de acolhimento e bem-estar em sala de aula, além de dicas de ferramentas de aprendizagem e acolhimento, como diários de aprendizagem, assembleias, cooperação entre pares e projetos de empreendedorismo. Inscreva-se!
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