Professora ensina a organizar combinados de convivência para o início do ano letivo
Prática pode ser realizada com turmas de todas as idades e apoia o desenvolvimento da autonomia dos estudantes; confira o passo a passo
A escola costuma ser o primeiro ambiente de convívio social de muitas crianças, onde elas aprendem a lidar com as diferenças, resolver os próprios conflitos e entender que nem sempre tudo pode ser feito do jeito que desejam. Por isso, regras e limites são fundamentais para o desenvolvimento dos alunos, norteando-os acerca dos seus seus direitos e deveres enquanto estudantes.
Uma ferramenta pedagógica que pode ajudar a alcançar esse objetivo são os combinados de convivência, acordos estabelecidos entre a turma e o professor que definem o que é ou não permitido fazer durante as aulas.
Para Soraya Rosa, professora de Educação Física no Rio de Janeiro (RJ), firmar contratos de convivência com suas turmas já virou tradição no início do ano letivo. Professora há 32 anos, Soraya acredita que definir regras justas para um bom convívio evita problemas para os educadores e incentiva o protagonismo e a cidadania dos alunos.
Ela compartilhou com a Vivescer o passo a passo para realizar essa atividade com alunos de todas as idades. Confira a seguir:
Regras de convivência
Soraya sempre monta os combinados de convivência com seus alunos no primeiro dia de aula, mas isso não é uma obrigatoriedade. É interessante pensar nessa atividade para a volta às aulas porque as regras determinadas apoiarão o professor durante todo o ano letivo.
Para começar, a professora escreve no quadro as coisas que precisam acontecer para todo mundo poder participar das aulas. Como professora de Educação Física, fazem parte dessa lista o tênis, o uniforme e, agora, a máscara.
Em seguida, o “contrato de convivência” é divido em três partes: o que pode, o que não pode e as punições.
O que pode
O contrato é feito de forma colaborativa, com os alunos contribuindo e opinando durante o processo. Para começar a preencher a seção do que é permitido, Soraya pergunta aos alunos o que eles acham que podem fazer na Educação Física. Conforme eles vão falando – pode brincar, pode jogar bola, pode correr… –, a professora escreve no quadro.
Muitas vezes aparecem coisas parecidas. Para não ficar repetitivo, Soraya vai intervindo e sugerindo mudanças para sintetizar os itens. Se os alunos concordam, ela altera. Mas o protagonismo é da turma: “Já tive turma que disse ‘não, não fica legal, a gente prefere desse jeito’, então eu deixo do jeito que eles falam”, conta.
Em linhas gerais, o que mais aparece em seus contratos é participar das aulas, fazer todas as atividades, se divertir, respeitar os colegas, a professora e as regras das brincadeiras e jogos.
O que não pode
A parte do “não pode” acontece da mesma forma.
Na Educação Física, as atitudes não permitidas costumam ser chutar, bater, enfiar o dedo no olho, cuspir na quadra, chutar o colega, xingar e dar o dedo do meio. “Eles falam muito sobre não machucar o outro de forma nenhuma: nem com gesto, nem encostando nele, nem com palavras. E aí a gente vai conversando sobre isso.”
Punições
“A parte das punições é a mais divertida, porque sempre tem um que diz ‘quebrou a regra, vai pra direção’. Mas a gente precisa achar um meio de ser justo, isso é o mais importante”, orienta a professora. O aluno não deve respeitar as regras apenas pelo medo de receber a punição, mas sim por entender que aquele é o combinado da turma, então todos devem segui-lo para conviver bem.
Desse modo, Soraya e os alunos definem as atitudes adotadas com os alunos que descumprem as regras. Com algumas variações, são elas:
- Na primeira vez: a turma irá conversar sobre o que aconteceu;
- Na segunda vez: ou o aluno perde uma atividade, ou dez minutos;
- Na terceira vez: dependendo da gravidade, perde a aula toda;
- Em último caso: se houver agressão, vai para direção.
Assinando o contrato
“Eu registro tudo, levo para casa, digito as regras que foram definidas em cada turma e levo de volta para eles assinarem. Eu também assino esse combinado e deixo uma cópia na coordenação da escola, uma cópia presa no mural da sala e uma cópia fica comigo, que eu levo pra quadra”, explica a professora. O momento da assinatura é importante porque reforça o comprometimento e a participação dos alunos com o que foi combinado.
Como manter os combinados durante o ano?
“Nos dois primeiros meses é uma coisa religiosa. Quando alguém faz alguma coisa, a gente junta a turma e, de acordo com as nossas regras de convivência, avaliamos o que vai acontecer em conjunto”, descreve Soraya. “No primeiro bimestre isso dá um trabalho gigante, porque você tem que parar a aula o tempo inteiro até que eles entendam o funcionamento. Depois, pra quem já está acostumado é mole, a gente faz isso bem rápido porque eles sabem como funciona e já sabem se policiar.”
Em casos de exceções
“Ano passado teve o caso de um colega que ficou um tempo em casa, no ensino remoto, e estava retornando. Ele veio para aula de jeans, e não pode fazer aula de jeans. Eu reuni a turma, expliquei a situação e perguntei a eles o que achavam de abrir uma exceção para o aluno fazer a aula daquele dia, todos concordaram. Em casos excepcionais, eu me sento com a turma e debato com eles.”
Combinados que apoiam a inclusão
Soraya é especialista na inclusão de alunos com deficiência por meio da atividade física, então os contratos também ajudam a garantir que todos os alunos possam participar das aulas.
“Eu tenho alunos incluídos que participam de todas as atividades muito bem e com os colegas ajudando. Isso me ajuda a não ter problemas de exclusão nas aulas. Primeiro porque o aluno sabe que eu não vou deixar, segundo que tem uma regra que me respalda: que todo mundo tem direito de participar de todas as atividades.”
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